quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Produzindo

Tinha um cara olhando de rabo de olho. Ele viu você, eu e toda a maldade do mundo entrando naquele elevador. Cochilando na sua poltrona, com a câmera fazendo o trabalho dele. Os olhos fechados mas nem tanto, a borda de pizza fria no canto do prato. O entusiasmo com que a gente passou por ele deve ter contagiado por osmose o porteiro Hélio. Pilha daquele tesão que não cabe em palavras. Que preguiça de acordar amanhã, podíamos inventar uma desculpa daquelas tão esdrúxulas que até nós mesmo acreditaríamos. E perder tempo, ganhar tempo, perder tempo, ganhar. Porque coisas produtivas não têm necessariamente um produto final palpável. A ideia é outra, muito mais eficaz. Vamos produzir histórias e memórias. E o que mais tiver faltando.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Voo baixo e marginal

Olhando assim, sob essa luz de lua nebulosa e com as pistas livres me sinto num corredor de liberdade. Nem pareço estar no cerne de uma das maiores dores de cabeça do paulistano. Que vontade de sentar o pé nessa Marginal Pinheiros vazia, 2h47 de uma quarta-feira divertida na SP cinzenta. Mas o radar me impede, mas o crânio voa longe. Que bom é poder simplesmente ir, sem barreiras, pista livre estilo autódromo. Já quis ser piloto, mas hoje em dia uma madrugada numa marginal me basta. Tão belo que até as poucas moitas e palmeiras ganharam ares de floresta selvagem, apetitosas e fartas. Ilusão de ótica e de realidade, não é normal conseguir andar aqui. Minha cabeça voa mais que os 80 por hora no marcador. Não sei se é liberdade, nesse caos cinzento.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Doces mentiras

Gosto de mentira, não de mentir. Aquelas doces mentirinhas que você percebe sem perceber, as inofensivas. Talvez até defensivas, me protegem de mais sofrimento. Me engana que eu gosto quando eu não quero saber da verdade. Tem essa época pesada e eleitoreira da mentira. Dessas eu não gosto tanto assim, porque parecem inofensivas, mas paga-se por elas por pelo menos quatro anos.

Mas aqui entre nós, pode falar, aham, aham, sim, claro, acredito em você. Sem dúvidas, você tem razão. Eu sei que você tá falando sério, lógico. Você não teria porque mentir pra mim. Ah, tava com as amigas no shopping, claro. Eu tava jogando poker com os amigos, até um uisquinho eu tomei. Putz, não vai dar pra você vir? É aniversário da sua vó? Poxa, claro que eu entendo, meu, família é mó importante.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um email, um sorriso

Conheci Jorge e Dulce em Florença (doce esquecimento, cara Dulce) em 2008, ficamos no mesmo albergue. Foi divertido, passeamos pela cidade, ficamos na fila do museu, pra cima e pra baixo. E me aproveitei deles pra furar alguma fila sim. Claro, essa é uma das vantagens de se ter amigos com mais de 70 anos. E a outra é receber um email desses de quando em vez.

Hola Felipe, mi hijo de Venecia, es una gran alegría saber de tí, siempre los cambios nos traen buenas nuevas afortunadamente tu trabajo te está gustando mucho, mira que nos encontramos muy felices, con el nieto, se está pareciendo mucho a mis Jorges, y tiene hasta hoy sus ojitos azules, como los abuelos los dos los tienen así. Recuerda que cuando vengas a México tienes a tus papás, que te esperamos con los brazos abiertos, cuenta con nosotros. te mandamos un fuerte abrazo. seguiremos en comunicación.

domingo, 12 de setembro de 2010

O que você tava fazendo hoje há 9 anos?

Hoje é 12 de setembro. O dia de ontem, há 9 anos, foi o mais marcante que minha geração já viveu. Inexplicavelmente todo mundo lembra onde estava e o que estava fazendo quando aconteceu aquilo tudo lá. Aquilo tudo lá mudou a história e acho mais emblemático do que o muro caindo em 1989. Aquilo lá deixou a todos com medo, gerou rumores, intrigas e muitas, mas muitas, teorias da conspiração. Mas será que você lembra o que estava fazendo no dia 12? Nem eu.