sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal diferente

Duas opções me restaram ao final desta semana. A primeira: fingir que estava tudo maravilhosamente bem, eu acreditar ingenuamente que todas as feridas já se haviam fechado e que não estava mais transmitindo a maledeta catapora. E ir para os natais paterno e materno numa boa, de cara lavada, simplesmente botando mó fé de que ninguém ia pegar mais nada, afinal não tava mais coçando em mim. Burramente colocando crianças, idosos e grávidas em risco, pelo simples prazer de não perder essa festa que eu realmente gosto

A segunda alternativa era mais dolorida, envolvia apenas sofrimento da minha parte e não colocaria nem o meu cachorro em risco: ficar mais dois dias trancado aqui em casa. Sem Natal, sem ceia, sem risco. Mas não foi essa dor toda, não. Teve telefonema para amigos em outros continentes, teve comida bem boa, teve meditação, teve reflexão por escrito e o mais divertido, participação no amigo secreto via skype. Acabei me sentindo lá, por ter estado lá todos esses anos. E como foi bom trazer todos meus familiares queridos ao alcance dos olhos. Ainda que a muitos quilômetros de distância.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Melhora aí

Em uma semana atravessei apenas duas vezes o portão do lar para ir a mais de um quilômetro deste sofá. Mas como banca de jornal, de dentro do carro não conta, digamos que hoje foi a primeira. Sim, ainda estou passando catapora (como este verbo é mais light que 'transmitindo', né?), mas fui num lugar onde poderia ser tanto algoz como vítima.

Dentro do pronto socorro da Santa Casa de Misericórida de São Paulo ninguém é culpado. Nem mesmo os médicos, que escolheram trabalhar com aquilo, queriam estar ali. Não é tensão o que corre, ou melhor, o que dribla macas, naqueles corredores. É sofrimento puro e destilado. Tensão talvez seja a palavra que melhor expressa a sensação que paira num jornal instantes antes de um fechamento. Mas se comparado com um frame deste lugar, é uma verdadeira volta na pracinha de Cambuí com algodão doce e vovôs assoviando.

Idosos e idosas sobram na figuração. Deitados ou cuidando dos moribundos em macas enferrujadas milimetricamente largadas nos estreitos corredores. Não viam a luz do dia. Ou da noite. Não pense que era um ambiente sujo, só que infelizmente a dor, apesar de cristalina e autêntica, não é limpa.

Num banco de aço, batendo papo com uma bonita doutora de jaleco e crachá, este paciente. Porque cargas d'água ele aguarda ali, sua vez, para ser atendido por algum qualificado clínico do PS. Verdade seja dita, 'sua vez' não, ele aguarda ali para furar a vez de alguém, já que a boniteza ao seu lado é sua prima, que é estudante, que namora um residente, que é faz tudo ali. Será que quem fura fila não tenho peso na consciência? Será que ele tenho direito de reclamar de corrupção, de gritar palavras de ordem e mostrar dedo pra polícia em manifestação na Paulista?

O silêncio temperado de murmúrios daquela fábrica (ou oficina mecânica) de dor foi cortado por gritos. Não eram de pacientes, mas de uma impaciente médica que vinha montada sobre um homem em cima de uma maca tentava reanimá-lo com massagem cardíaca. Quase como uma surfista de jaleco, ela fez com que todos se espremessem entre seu veículo e a parede para não serem atropelados a caminho da sala de trauma. E eu só tinha tosse, supeita de pneumonia á descartada com raio X, além da minha catapora quase sarando.
- Aquela ali na maca é a doutora que vai te ver, mas pelo jeito vai demorar um pouco.

No fim não veio aquela médica excêntrica (lamentam os dramáticos), mas foram só cinco minutos da atenção de uma nipônica de palavras certeiras sem serem escassas, de perguntas precisas, mas não insensatas, que ficava estranhamente interessante naquele jaleco branco. Adorei sair de uma consulta pela primeira vez nessa encarnação sem nenhuma receita além de repouso, limpeza com soro no nariz, boa alimentação e isolamento.
- Não, doutora, mas 15 dias de licença vão matar minha chefe do coração.
- Antes ela do que todo mundo em volta. O que você tem é sério, amigo.

E antes do clicar do carimbo médico, vejo a excêntrica a conversar ao meu lado. Contou que o paciente da 'prancha' hospitalar tinha ido tirar radiografia e que 'parou', mas o técnico não reparou que ele estava mais alvo que o lençol que o cobria. Quando chegou, percebeu que montar seria a única solução, e contou como desceu o elevador, e a adrenalina e o ineditismo daquela modalidade de reanimação. E no final, quando ela já quase ia embora se esquecendo de contar o desfecho, alguém pergunta.

- E o cara, tá vivo?

Com vivacidade e naturalidade de dar inveja a todos os que sofriam por ali, ela arrumou o cabelo, pegou sua prancheta e rumou ao próximo caso. Olhando para trás, disse sem peso.

- Não.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Filmandinho

A pior parte de ficar em casa por alguns dias em prisão domiciliar é que tudo fica monotemático e não dá pra se concentrar em muita coisa quando teu crânio, teu pé e tuas costas estão coçando desenfreadamente. Daí aposta na tevê para passar o tempo, e é o tempo pior passado porque ele simplesmente passa, mas nada entra. Não fica nada no crânio.

Apostei em DVDs, uma meia dúzia, sei lá, tipo um por dia. À tarde, porque assistir Mulheres não dá mais, Mamma Bruschetta que me perdoe. No enfadonho clima, vamo resenhar?

Vi Valsa com Bashir. Animação para incomodar, e consegue. Não é o melhor filme de 2008 (como dizia o guia 'to do' de Londres, era o único filme 5 estrelas que tinha, me lembro). Mas tem muita coisa bonita e umas seis cenas eu adoraria ter em pøsteres na minha parede. Mas fala de Sabra e Chatilla, fato que nunca deve ser esquecido.

Também teve Quase Dois Irmãos, de Lucia Murat, que pode-se dizer que não é apenas mais um filme de cadeia brasileiro, mas que mostra com mais cuidado o nascimento do Comando Vermelho (até entaão Falange Vermelha) e os aprendizados com os presos políticos de Ilha Grande. É mil vezes melhor que 400 contra 1, tá? Caco Ciocler e Flávio Bauraqui tentam salvar com brilhantes atuações um roteiro com falhas e um pouco longo, de Paulo Lins, 'o cara' de Cidade de Deus.

Tivemos a maravilhosa, dolorosa e possível (apesar de fictícia) história de Lemon Tree. Baita roteiro, baita ideia, baita interpretação. Demorei demais pra ver. E só vi graças à Carol Marra, valeu coisa mais gente boa do mundo!

Hummm, só pra não parecer que eu não vi nada na TV a cabo, Sequestro do Metrô 123 é um belo dum filminho de ação e de Denzel, é o clássico filme Denzel Washington. Quem já viu Um Plano Perfeito e Dia de Treinamento sabe do que eu to falando.

E com essa gripe e essa dor de ouvido que aproveitaram a imunidade baixa da catapora, pelo jeito a maratona vai continuar. Já temos Cidadão Boilesen e O Prisioneiro da Grade de Ferro esperando.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Motivo de criança

Para faltar uma semana no trabalho o cara tem que ter uma boa razão. Ou algumas. Confesso que não piso lá há quase três dias já. E tudo por um motivo de criança. Ou melhor, que a maior parte dos pimpolhos e ex-jovens conhece bem: catapora.

'Mas eu já tive catapora, não pode ser', pensei ao ver meu rosto na manhã de ontem. Domingo deu febrão, dipirona e relax resolveram. Segundona cheguei cedo na firma, depois do almoço voltei a me sentir mal. Voltei pra casa no meio da tarde já nocauteado. Nondé que eu ia imaginar que minha terça-feira começaria com um susto diante do espelho?

Eu tava me coçando todo, muito desconfortável. E se eu fosse dar expediente com aquele monte de mancha na cara no mínimo ganharia um apelido do tipo 'Geração Geek' ou 'Super Nerd' do sagaz colega do Jornal do Carro, vulgo Borracharia. A médica não olhou com atenção e sempre que piso numa UBS relembro que país é esse. Pelo menos na receita ela caprichou na caligrafia. Sem ironia, juro.

Quando você fica doente vira especialista naquilo que tá te fazendo mal. Pesquisa tudo na internet, entende como funciona, quando se cura já tá pronto pro mestrado. Tem gente, como o marido de uma ex-colega minha, a Sumara, que fez um blog contando da luta dele contra o câncer. Não, não vou encher vocês com minha paciência contra a coceira da catapora, haja saco, né?

Mas foi estranho porque eu já tive de lidar com essa moléstia traquinas quando tinha entre 8 e 9 anos, me lembrando bem dos banhos de permanganato de potássio, um comprimidinho púrpora. MAs dizem que ela nnao vem duas vezes numa mesma encarnação. E daí ela resolve bater à porta 26 anos depois, numa semana crucial (às vésperas das festinhas de fim de ano - amo) em que eu concluía diversos projetos importantes no trabalho e da rua pra fora, estava especialmente de bem com a vida.

Mal humorado, com muita dor de garganta, cabeça e ouvidos, liguei para minha amiga xamã. Ela riu, já que vinha me tratando há tempos, sabia que havia algo de ruim por vir. Mas me disse: 'peraí, isso tem um lado bom. Você vai colocar um monte de coisa ruim pra fora, vai fazer uma limpezona'. Gostaria de não precisar colocar nada para fora cutaneamente. Eu, pessoalmente, ainda prefiro a escrita.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Devagarando

Não frequentemente quem entra aqui percebe que o SDA anda mais às moscas que loja de CD e K7 da Santa Ifigênia. Alguns reclamam, os que lembram. Os que esquecem, esquecem. Eu também me esqueço das respostas que dou, que falo que volto, que já já retomo o ritmo ou que tô com um post irado na manga. Não tô. O trabalho tem me consomido (não isso não é nem um pouco ruim), escrevendo mais do que imaginei um dia nessa vida e depois de um dia (todos eles, ultimamente) exaustivo ter pique para escrever coisas que me agradem parece ser algo mais difícil que achar iglu no Acre. Mas, tks God, há as excessões, e é delas que é gostoso se alimentar.