quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nem sempre o de sempre

Todo mundo sabe qual é seu prato preferido, a cor predileta, o jeans que mais gosta ou jeito como o pão na chapa fica mais gostoso. Ou um modelo de camiseta, cueca ou tênis que cai tão bem que não dá pra usar outro. Cada um tem um ou mais restaurantes onde vai para comer sempre a mesma coisa. E parece que uma vez que você descobre que gosta daquilo, daquele jeitinho, isso automaticamente diminui, quando não encerra, todas as outras maneiras de se fazer algo ou de se abrir para provar o diferente.


Quando o chapeiro da padaria sabe o ponto do seu pão só de te ver passar pela porta ou o atendente já sabe que seu cafezinho é com um pingo de leite, esquece, você dificilmente pede uma coxinha ou um cappuccino. E muitas vezes o tal cappuccino com coxinha poderia ser candidato ao novo favorito, destronando o menu ‘de sempre’. Até jornal é bom trocar de vez em quando. Nunca citei Da Vinci, mas vou ousar. Ele disse uma vez que quem fixa seu olhar numa única estrela não muda de ideia'.


É claro que ha circunstâncias em que ‘o de sempre’ é bom como nunca. Se passou uma temporada fora de casa ou teve que comer comida requentada ou preparada por namorada nova que ainda não sabe o ponto certo das coisas, tá valendo pedir o default. Se tá carente, tomou um pé ou tá muito tenso com o chefe?, vai lá também porque é mais que justo.


Dar uma chance para uma sensação nova é algo que estamos nos destreinando a fazer. Tudo é cada dia mais customizado ao gosto do freguês. Mas essa padronização tende a impedir a flexibilidade, a abertura ao novo. O imprevisível, o improvável.


‘O de sempre’ é segurança, é abraço de mãe, é o sem erro. Claro que é bom, mas assim como não existe perfeição sem repetição, não existe acerto sem erro. E pro tanto de coisa que se pode descobrir simplesmente experimentando o B em vez do A, talvez valha a pena não pedir sempre o de sempre.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A promessa

Hoje faz 20 anos que fiz a única promessa que tenho certeza que mantive até hoje. Sobre todas as outras eu posso ter revogado, ou esquecido, ou descumprido mesmo. Mas essa não, essa é forte, essa significa muita coisa pra mim.

No dia 16 de maio de 1991 morria minha avó. Eu queria muito entender o que tinha acontecido, minha mãe me contou que ela teve um derrame. Eu perguntei o que significava aquele nome horrível e explicou que era um rompimento de veias no cérebro. Indagada por mim sobre como isso acontecia, ela disse: o cigarro faz isso.

Me lembro com clareza como se fosse hoje. Do alto dos meus sete anos, me sentei em um degrau da escada acarpetada daquele sobrado onde morávamos, pensei que nunca mais iria ver minha avó (de fato não vi) e me prometi que nunca iria fumar um cigarro. Lógico que hoje eu sei que o cigarro não é a única causa de derrames, mas a promessa continua mais que forte. E a saudade também.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Bumerangue

Quando você vai atrás, alguma coisa pode acontecer. Quando fica parado, alguma coisa também pode acontecer, mas as chances são menores. Isso eu acabei aprendendo na lata, quem sabe seja por isso que eu goste tanto de me mexer para alcançar o que me faz bem.

Engraçado é que escrever aqui é, de certa forma, ir atrás. Muita gente vem parar aqui porque é meu amigo, conhecido ou NDA. O que escrevo aqui é num tom, numa pegada muito diferente da de segunda a sexta-feira. É algo com outro espírito. Sem querer querendo estou correndo atrás do leitor.

É desabafo meu, claro, mas de certa forma quero fazer isso ecoar nos outros. E é delicioso quando ecoa em amigos queridos, que há tempos não vejo. Quando algumas linhas suas fazem o leitor se dispor a doar algumas linhas dele para ti, me dá a sensação de que a missão foi cumprida. E ultimamente, que bom, parece estar sendo a contento.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cabelos normais

Não sou um cara muito aparelhado de cobertura capilar. Beleza, tá tranquilo, desde meus 17 anos comecei a ficar desfalcado e após uma década, boa aprte dela com terapia, eu acho que deu tempo suficiente para entender e, quiçá aceitar, que a vida é assim mesmo. Na real já nem ligo tanto e descobri que o caminho para tratar qualquer imperfeição é o humor.

Vai, gordinho, me chama de careca. Você também narigudo. Ah, e você também vesguinho, me sacaneia, please. No fundo eu meu divirto. Na verdade as pessoas se diferenciam nos defeitos, e se tornam mais atrentes por conta deles. As imperfeições são a oportundiade de destacar o que se tem de melhor. É ali que a pessoa se diferencia, fazendo aparecer suas qualidades e tendo a chance de encantar quem quer que seja.

Bom, falei de cabelo. Falei de imperfeição e até filosofei (xexelentamente) sobre como utilizá-la a seu favor. Tudo isso porque não entendo pra que serve a denominação 'cabelos normais' impressa nas embalagens de xampu. E que, se normalmente todo mundo tem cabelos, provavelmente os meus devem ser anormais. Só que nunca vi xampu pra mim.