segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Silêncio, felicidade e bifinho
De uma prosa com minha vó, feliz e alegre por meu ouvir contar alguns causos da minha semana de andanças pela Estrada Real, quatrocentos quilômetros de estrdas de terra pelas Minas Gerais. Ela feliz por me escutar e eu feliz por saber que qualquer notícia engrandece seu dia. A cada curva da estrada que lhe relatava, escutava seu sorriso do outro lado. Bom fazer uma senhora de 88 anos sorrir. A energia chega rápido. Aliás, sou meio monotemático, já que o antipenúltimo post foi sobre ela também. Mas o silêncio é pai de todos os verbos, então não custa nada falar e bordar sobre o que me faz bem. A véia está acostumada comigo a chamando assim. Nada de falta de respeito, Dona Lucy tem o raro dom de saber rir de si mesmo. Sobre as novidades, debocha. Tudo parado, quando você vem aqui? Tudo bem, quando passar a correria você vem. Só avisa antes pra eu preparar uma comidinha boa, tá? Claro, eu nunca vou sem avisar. Aliás, sinto saudade permanente do seu arroz e do seu feijão e não tem semana no interior de Minas que satisfaça ou amenize essa angústia do seu arroz com feijão. Sem falar no bifinho - de fígado ou não - acebolado. Acho que o sorriso dos meus olhos quando come ele te inspira, né vó? Bom demais essa coisa de poder agradar, né? Também sinto isso quando te ligo. Seu telefone vai tocar.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Ah, ano de eleição...
Ano de campanha parece aquele discurso de namorado que não admite que não foi um bom companheiro e que percebe que o fim é iminente. Aquele que tenta listar tudo o que fez, os restaurantes a que levou a amada, as contas que pagou e até os presentes que deu. A enxurrada de anúncios, propagandas na TV e no rádio parece tentar nos convencer de que o que vemos agora - a cidade embonecada, com cara de que está indo pra frente - é o que sempre esteve diante de nossos olhos nos últimos 8 anos.
E ninguém precisa de memória de japonês de cursinho para saber que não foi nada disso. Que São Paulo alagou zilhões de vezes, que bateu recordes de congestionamentos (mais de 300 quilômetros, dá pra acreditar?), que virou polo de arrastão de restaurante e de roubo de caixa eletrônico. Isso sem falar nos clássicos semáforos que quebram a cada chuva, Controlar que multa todo mundo e CET pouco eficaz.
A impressão que dá é que guarda-se dinheiro para o último ano de mandato para gastar tudo de uma vez, tentar iludir com propaganda e maquiagem por toda a cidade. E que depois da eleição - que temo pela falta de candidatos razoáveis - tudo voltará ao normal. Ou seja, à sujeira e bagunça de sempre.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Informais
Escrevi um verso cansado
Colori lacunas de verbo
Coloquei aspas errado
Estendi uma mão despretensiosa
Para socorrer alguém desgarrado
Em troca de um sorriso sincero
Ou um profundo papo fiado
Indecente prosa infinita
Guiada por qualquer ideia
Levada de uma tristeza bonita
Como se houvesse plateia
domingo, 10 de junho de 2012
87 anos de despertar
terça-feira, 22 de maio de 2012
Herança
Hoje experimentei uma herança diferente. Literalmente experimentei usar um suéter do meu avô Alberto. E ele - o suéter - parece ter gostado de mim, esquentando-me numa noite fria dentro de uma casa mais fria ainda. Herança de vestir, de relembrar.
Bateu a nostalgia, mas deu aconchego. Essa malha me parece estar estranhamente pré-destinada. Como se algo nela, o cheiro ou a textura, fossem institivamente familiares. Assim como o carinho e a saudade.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Retrato ambulante da folia
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Chegadas e partidas
Festas de despedida para viagens, intercâmbios ou até mesmo mudanças para outras cidades (ou países) me trazem isso à cabeça. Claro que a gente quer ter os que gostamos por perto, de preferência a maior quantidade deles ao alcance de um abraço. Parece um pouco aqueles happy hours de fim de ano, um clima de 'não fizemos nada até agora, temos que correr porque o ano está acabando'.
Parece que só quando se propõe um encontro desses se percebe que o tempo está passando. O tempo tá passando todo tempo, tá passando agora. As festas de bota-fora são clássicas já, dá a impressão que tenho uma por mês pra ir. Claro que nosso momento econômico ajuda, mas sinto que há mais festa do que reflexão. A consciência, o pensamento e - principalmente - o aproveitamento da companhia, do aprendizado e das trocas de ideia com o outro devem se dar todo dia.
Ao voltar para casa, depois de dormir de novo em sua cama, comer a comida da sua mãe e pegar trânsito no seu carro, também se comemora. As festas de bota-dentro (com trocadalho), são - no fundo - a verdadeira razão para se viajar. E é pruma dessas que eu vou agora.
domingo, 8 de janeiro de 2012
2011, um ano muito
Parado desde o ano passado, esse blog renasce mais uma vez com a missão de olhar pra trás e – com alguma saudade, afinal – relembrar porque 2011 foi tão cheio. Se um ano passa voando (clichê number one) é porque os acontecimentos que o permearam tiveram de extrema intensidade, somando-se e dando significado a vários outros em nossas vida.
Quase um programa careta com Sérgio Chapelin e Glória Maria apresentando numa antiga ruína meio esquisita no Rio de Janeiro, esta retrospectiva leva em conta só o que achei útil pra minha vida mesmo. Considero um registro particular quase público do que me foi importante em 2011. Obviamente, o 100% particular tá registrado num notebook, de papel, muito menos efêmero que esse bytes que enxergas agora.
Os que se indignam, quer seja com o fato de o primeiro ano de governo Dilma ter sido recheado por escândalos de corrupção que derrubaram 7 ministros da base aliada – tutti buona gente – ou com o fato de terem ousado comparar Neymar a Messi e o Santos ao Barcelona, encontraram em 2011 seu ano símbolo. Finalmente alguma gente percebeu que tem demasiada coisa errada com muito poder concentrado nas mãos de muito poucos. Claro, a internet é a estrada por onde correm as informações, as mobilizações e as segundas versões.
Foi justamente buscando criar uma segunda versão para a história contemporânea que a chamada Primavera Árabe tocou fogo ao próprio corpo para mostrar ao mundo que imolar-se pode dar sentido à busca de um mundo melhor, por meio de mobilizações populares e da busca por algo mais democrático. Não sou ingênuo de cogitar que dessas inspiradoras revoltas não surgirão governos fundamentalistas e que, em pouquíssimos casos, espero, sentiremos saudades dos antigos déspotas.
Por falar neles, junto com Nero, a palavra ‘déspota’ aparece imediatamente no meu imaginário associada a Muamar Kadafi. Pelo menos até pouco tempo atrás. Confesso que quando a bagunça começou na Tunísia eu apostaria que jamais chegaria à Líbia, pois imaginava que o sistema de contrarrevolução interno deles fosse um dos mais sofisticados – não justos, claro – do mundo. Ah, como eu adoro me enganar.
Ao que pareceu, o povo, apoiado (ou completamente facilitado pela OTAN), tomou o poder e encerrou mais de 40 anos de regime militar. O fim de Kadafi achei triste e acho que as coberturas da mídia teimaram em apoiar a tese de que a justiça se fez, quando o que se fez foi um linchamento público brutal. Desnecessário e injusto, mas talvez inevitável. Não sei como eu reagiria se surpreendesse o ditador que tocou o terror no meu país por 40 anos escondido dentro de um duto. Talvez fizesse pior. É muito fácil falar de longe.
Dois jornalistas brasileiros pagaram o preço de se fazer uma cobertura real in loco. O Andrei Netto, do Estadão, passou 8 dias preso na Líbia – e contou pra gente durante quase duas horas detalhes de tudo. Surreal a diferença entre ler e olhar nos olhos de quem sofreu tal violência. O outro foi o Germano Assad, que apesar de ter o mesmo sobrenome do ditador sírio, passou algumas terríveis noites numa prisão na Síria, apenas porque estava no lugar errado na hora errada.
Enfrentar as forças do governo virou um belo de um hobby mundial. Que bom. Na Grécia, na Espanha, no Chile, em Nova York. Sim, por motivos diferentes, mas sempre abastecidos pela indignação e pelo descaso com a lida do que é público, da gestão de Estados, das prioridades reais das nações. Para colocar o dedo na ferida do atual sistema econômico financeiro. Tomara que se conscientizar e se politizar seja algo que tome mais do que centros de cidades de todo o mundo, que ocupe os pensamentos e os debates em todas as áreas. Que não falte combustível e torque em 2012.
Oxalá o mesmo ânimo contagie o governo Dilma, que fique mais para a faxina e menos para debaixo do tapete. Sinto as boas intenções sinceras na presidente, mas a vejo cercada de tubarões que cobram pedágios para que governe. Nossa agora sexta economia do mundo merece ser mais que uma economia poderosa, e deve olhar essa ultrapassagem sobre a Inglaterra como uma oportunidade de melhorar as desigualdades. Repensar sua relação com poder, e corrupção.
Punir e mostrar que é possível castigar deve ser exemplo por aqui, num ano em que os acidentes de carro e atropelamentos com morte deram um boom (na mídia também, lógico), se faz urgente uma mudança significativa na lei. Mas ainda acho que um mensalão, uma CPI de fachada ou um aumento exponencial de patrimônio são muito mais escandalosos do que um Camaro com um babaca no volante ou um atropelamento de alguém que poderia ser um amigo meu na Vila Madalena. Estamos sendo todos lesados, calados, coniventes.
Mas claro que há mudanças. 2011 foi o ano das marchas: marcha pela consciência no trânsito, marcha das vagabundas, marcha da maconha (ei, polícia, maconha é uma delícia – bradavam) e a marcha da liberdade, pelo direito de fazer marchas. Precisamos sim continuar marchando, mas tomando cuidado para não virar carne de vaca. Por falar em carne, rolou o inesquecível churrascão da gente diferenciada, em Higienópolis, após uma senhora demonstrar a resistente ignorância crônica da nossa classe dominante.
Ano de muitas greves, de bancários e carteiros até coveiros – sinal mínimo de que algumas coisas estão erradas até mesmo na fantástica terra das Casas Bahia. Unificar as organizações das passeatas e escolher um tema de cada vez podem ser um caminho.
Palco de marchas e manifestações politicas, a Avenida Paulista foi em 2011 – de novo – cenário de perseguições e atos homofóbicos. Palhaçada. E o país quer ser mais que a Inglaterra. Lá perto da Paulista abriu a famosa linha 4 Amarela, depois de 15 anos anunciada pelo PSDB. Realmente transporte público de massa ainda não é prioridade tucana, de fato. Logo ali, na Consolação, o Belas Artes fechou suas portas e acabou para sempre. Uma tristeza infinita para quem gosta de cinema em Sampa.
Uns que queriam virar personagem de cinema, mas viraram de pastelão americano foram os invasores da Reitoria da USP. Completamente sem necessidade e sem a menor noção de diálogo e liderança, se deixaram fotografar levando centenas de latas de cerveja para dentro do prédio – desacreditando completamente ‘o movimento’ perante a opinião pública. E o pior, é que ao não deixarem jornalistas entrarem lá, permitiram que a PM agisse com a truculência que deve ter agido e plantado os coquetéis molotov que exibiu em rede nacional. Faltou bom senso de ambas as partes, e ninguém virou mártir nem bandido. By the way, formado na FEA e na Poli, o prefeito Kassab criou um partido, fudeu – mais ainda – a cidade e aumento a passagem de ônibus pra R$ 3. E continua cínico e dissimulado.
Já pra mim, a USP marcou por conta da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva. Não que eu conhecesse ele, longe disso. Infelizmente acabei atuando muito na cobertura de sua morte e acidentalmente fiz as vezes de repórter investigativo. Sem dúvidas um dos dias mais exaustivos e com mais energia negativa de toda minha (ainda curta) carreira profissional. Outro ponto baixo energeticamente foi o massacre de Realengo que virou matéria de uma página no metrópole feita junto com meu colega e amigo Carlos Lordelo. Nesse dia eu saí absolutamente morto. Assim como todo o Brasil.
Impossível também foi não se emocionar com as imagens assustadoras do tsunami no Japão e das histórias horripilantes da região serrana do Rio. Por outro lado, a tão sonhada (pelo mundo ou só pelos americanos!?) imagem de Osama Bin Laden morto não veio à tona, nem na era dos vazamentos internéticos.
Não dá pra terminar o ano sem falar do Zé Love, vulgo Zé Eduardo, jogador medíocre que conseguiu ser campeão da Libertadores da América pelo Santos. Ele, junto com Bruno de Luca – que namora a Miss Brasil – e, Justin Bieber – que encheu 2 Morumbis inteiros, me fazem chegar nas perspectivas para esse ano. Se eles conseguiram tudo isso, acho que a gente consegue ter um 2012 melhorzinho.
domingo, 9 de outubro de 2011
Meu mini manifesto pela bicicleta
Aliás, quando foi a ultima vez que voce me viu acordando num domingo as 8 da manhã por vontade própria? Pois é, fiz isso hoje. Com um sorriso no rosto. E quando vi que choviscava lá fora fiquei ainda mais orgulhoso, porque já estava de pé e não voltaria pra cama. E foi debaixo de garoa que eu pedalei boa parte dos 27km de hoje. A outra parte foi debaixo de um toró terrível ali na região do Jockey Club. Arrependimento? Nenhum. Raiva da chuva? Nenhuma. Eu estava lá, e ela também estava lá por alguma razão.
Interpretei que foi para me dar uma prévia do que será a descida dos 80 km da Serra do Mar na quarta-feira. Não, não é pela Estrada Velha, mas pelas novas estradas de manutenção da Ecovias. Olha que bacana essa oportunidade, olha que legal seu filho percorrendo a serra que os jesuítas subiram, não em lombo de burro, mas num veículo impulsionado por ele mesmo. Um veículo que faz ele se sentir vivo, com o maldito e abençoado vento no rosto. E a impagável sensação de estar vivo. Continuo te amando e sendo seu filho de sempre. Mas me desculpe, pois não vou desistir sem tentar.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O retrato do Brasil num acidente de trânsito
Uma conversão proibida, uma rodovia federal, um carro preto e outro vinho, velho e com a luz apagada, colisão. Ninguém viu chegando. Chegou. E com muita força. Força. Muita. Protege-se o rosto. Barulho de vidro estilhaçando. No instante seguinte você pergunta a todos se estão bem. O olhar de quem acaba de sofrer um acidente automobilístico é absolutamente animal. Do instinto de sobrevivência aflorado. Pouco sangue escorria do nariz dela, ufa. Esperava ver o inferno quando me virei, sentado no banco do passageiro. Conseguimos todos os quatro sair andando bem.
O casal já estava do lado de fora, assustado, mas bem. Ele, mais para nervoso e exaltado, dizia que tinha acabado de comprar o carro, seu primeiro, de ano 1986. E que não tinha habilitação, mas que estava tirando-a. Ela, mais calma, se preocupou conosco. Ambos tinham cortes nas pernas que não pareciam feios.
Os bombeiros vieram. Com muita rapidez. Dois carros, uma ambulância. Fomos todos atendidos, com calma e dedicação, e uma atenção invejosa. Ah, se os caixas de banco, os seguranças de boate e os políticos de Brasília vissem. Por amor ao próximo, por honra. Deviam divulgar mais o lema ‘vida por vidas’. O motorista do outro carro disse que era de SP também mas que morava ali há muito tempo, se eu conhecia Heliópolis, de onde ele era. Tentativa de intimidação?
Ainda bem que estávamos em três carros, portanto deu para dividir funções. Alguns rumo ao hospital. Outros ficaram com bombeiros por lá, na Rio-Santos parcialmente interditada, com o que sobrou do Uno 86 no meio da pista. Esperando, junto com o guincho do seguro, a Polícia Rodoviária Federal para fazer a perícia e depois irmos à delegacia registrar a ocorrência. Há uma única viatura para dar conta de um trecho de quase 200 quilômetros.
Andei de ambulância do resgate, com sirene. E foi legal. Claro que só estou contando isso porque não aconteceu nada de grave. Uma vez na vida, basta. No hospital, raio xis, gaze, e analgésicos. PS da Santa Casa de Angra dos Reis, não recomendo pela estrutura, mas pela dedicação dos plantonistas num sábado à noite. Novamente, de uma dignidade de fazer inveja a quem manda no País. Ela estava bem, o cortezinho de 4 milímetros no nariz estancou. A boca inchou, é verdade, mas ela e todo mundo sabia que tinha sido pouco pelo tamanho da batida. O ortopedista era Renato, como meu velho, lhe disse. Com minha chapa do ombro nas mãos, afirmou que era apenas contusão muscular, receitou. Sorriso no rosto. Era o quarto a dizer que tivemos muita sorte aquela noite.
Recebemos alta, e convocações para comparecer à DP, onde um solitário investigador estava de plantão. Na parede, um aviso à caneta: ‘Por favor não sente no sofá com a arma no coldre, pois o sofá rasga’.
Infelizmente os documentos da motorista e do carro ainda não haviam chegado porque era necessário que os bombeiros entregassem à Polícia Rodoviária Federal, que após periciar, entregaria os documentos à Polícia Civil junto com seu laudo. Portanto, deveríamos voltar na manhã seguinte. Domingo de manhã na delegacia de uma cidade litorânea brasileira. Claro que não daria certo.
Já havia se passado mais de três horas do acidente, todos bem, atendidos e liberados. E nada o que fazer na delegacia, sem o laudo da PRF. E o guincho não podia rebocar os veículos sem o tal papel. Enquanto isso, fizemos um rodízio nas funções e coube a mim ir esperar junto ao bombeiros a chegada dos federais para então acionar novamente o seguro, que acionaria novamente o guincho.
Antes disso, comemos no Max Burguer, e alguns sanduiches foram levados como gentileza aos bombeiros, alguns deles sem comer desde a hora do almoço. Já passava da 01h33 quando o capitão responsável ordenou que recusassem a gentileza, pois estaríamos ‘comprando-os’. Engraçado pensar como simples sanduiches de madrugada ‘comprariam’ bombeiros que – além de nada terem a vender - , tiveram peito para enfrentar homens do BOPE (armados de fuzil) na porrada por um justo e merecido aumento de salário.
Mais três horas de prosa com um cabo muito educado e devoto do que faz. Disse que não há sensação melhor do que chegar em casa após ter salvado uma vida. E nem sentimento pior do que perder outra vida em suas mãos. Contou-me como foi um dos linhas de frente da invasão do quartel central em junho, e deu (sem querer) uma aula de dedicação e profissionalismo.
As amigas advogadas descobriram que a apólice não cobriria imprudência da motorista e menos ainda, pagaria o carro do terceiro. Portanto criar uma história se fazia necessário para obter um laudo que obrigasse o seguro a pagar tudo. E toca eu a tentar mentir às 4 horas manhã – hora em que a PRF chegou, quase 6 horas depois do acidente – e convencer os hómi de que apareceu um bêbado na estrada, a motorista tentou desviar, perdeu o controle do carro, e o de trás veio e colidiu.
Tudo o que eu não queria era mentir depois de tudo o que tinha acontecido e da sinceridade com que o mundo e o Brasil tinha se mostrado para mim naquelas últimas horas. E é obvio que não convenci o PRF com cara de corrupto caricatural, estilo Tropa de Elite. Ele queria porque queria falar com a motorista, que aquela hora já dormia – ou tentava, pelo menos – tranquilamente na pousada.
Ficou óbvio que só liberaria os documentos do carro mediante propina. E meu medo de deixar duas meninas irem negociar com policial corrupto. Ainda tinha que esperar o guincho, que chegaria em até uma hora. Isso porque estávamos na frente de uma das favelas mais perigosas da região, Comando Vermelho, claro. E que era ponto de desova de corpo. Eu continuava esperando o guincho, agora sem bombeiros para tranquilizar.
As meninas foram, falaram, e voltaram com os documentos. O polícia desconfia de mim. A atuação foi convincente, o roxo no rosto e a blusinha branca justa num seio siliconado, ajudou, é fato.
Voltaram, deixaram o documento com o simpático motorista do guincho e rumamos juntos para a pousada. Já amanhecia quando tomei um susto daqueles. Um ruído distante, e logo um barulho seco bem próximo de mim. Me protegi. Era o jornal recém entregue. Com as páginas do Globo sujando os dedos, o cheiro do café fresco cruzando as narinas, me senti vivo. Renascido. E assustadoramente brasileiro.
sábado, 24 de setembro de 2011
No pé e no ouvido
Tenho ouvido muito rádio, meu iPod anda bem aposentado. As música preferidas cabem em mp3, mas o que enche os tímpanos ultimamente são os sons da Eldorado Brasil 3000 FM, a melhor rádio de Sampa hoje em dia. E não é porque trabalho 4 andares em cima dessa rádio, mas aposto contigo que não tem sequência melhor no dial. Pode ligar, especialmente aos finais de semana, e comprovar. Se for um sábado de sol, você vai ver que o desgraçado do programador consegue fazer uma playlist que tem tudo a ver o dia lá fora. E se estiver chovendo e friozinho, ele tem a manha de colocar uma trilha adequada.
E tem a Oi FM que também consegue manter um ritmo bom em algumas horas do dia, quando não se mete muito à besta com sonzinhos indies que só o programador e seus miguxinhos do mundo fashion conhecem. Mas eu tô que tô em sintonia com radinho.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Peruinhas
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Terrivelmente humanos
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Mas que que aconteceu com seu pé?
Quem me conhece sabe que eu gosto de falar. Só que de vez em quando eu não aguento mais contar a mesma história, mesmíssimo caô. Daí alguém deu uma ideia: usar a criatividade. E meus maravilhosos dons teatrais. A regra: sempre que estivesse acompanhado por alguém que soubesse como foi meu acidente, inventaria uma história diferente.
A vítima 1 foi a mais hilária. Com olhar sério, um pouco cabisbaixo e com cara de dor, comecei a narrativa. 'Existe um lugar no Mato Grosso do Sul, um chapadão, onde existe uma comunidade chamada Projeto Portal. Por lá costumamos avistar e ter contatos com seres extraterrenos. Foi durante uma experiência de quase abdução que eu machuquei o pé. Meus chacras não estavam todos abertos para ser competamente abduzido e poder ser levado para uma volta em um nave intergalática. A poucos metros de entrar na aeronave, me deu uma bad vibe, meu chacras se fecharam e vibe complicou. Caí, quebrei o pé". E saí sério.
A segunda foi mais utópica, mas contada com a mesma seriedade. 'Eu estava na casa do Geraldo Magela, aquele humorista cego, fazendo uma entrevista para um frila de uma revista de acessibilidade, quando de repente, a luz da sala queimou. Ele só percebeu porque eu falei, claro. O apê dele era escuro, comecinho de noite, não consegui enxergar nem a cor do meu bloquinho. Ele muito gentilmente disse que na dispensa havia lâmpadas no armário superior direito perto da porta, assim como uma escada no canto esquerdo, próxima ao interruptor. Fui lá. Claro que não seria eu que iria segurar a escada. Quando eu estava trocando a lâmpada, aquele ceguinho filho da puta foi fazer piada, tremeu levemente a escada e eu caí. Mas pelo menos ele se fudeu também porque eu torci o pé, mas a escada caiu em cima dele".
Aceito sugestões para novas, chulas e/ou criativas ideias. Pode deixar só a primeira frase, que o resto eu invento, afinal trabalhar com a verdade não pode engessar o profissional.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Distorcendo o nariz
A rinite é uma espécie de miopia com hipermetropia nasal, temperada com astigmatismo. Uma calvíce crônica dos odores. Cada vez mais você sente menos odores. E trabalhar na Marginal do rio Tietê, por supuesto, não melhora em nada isso, mas até que a rinite ajuda a não sofrer tanto.
Mas algumas vezes, meio que subitamente, a narina se abre que nem perna na zona. Uuuuuuu. E a enxurrada de informações olfativas demoram um tempo para serem processadas. Confesso que alguns abraços femininos induzem essa reação. Um brinde às cheirosas.
Cigarro é outra coisa que faz meu nariz apitar. Não tem jeito, acendeu um careta do meu lado, eu acabo torcendo o nariz. Pode até ser uma cheirosa, cigarro é chato. Claro que eu não saio correndo, mas já deu vontade.
Certa vez me ofereceram um tal de Afrin, me garantindo que seria uma espécie de óculos que clareariam o meu olfato, me fazendo respirar numa nova dimensão. De fato, a sensação é maravilhosa, mas altamente viciante. Como míope - ocular, claro - devo confessar que muitas vezes gosto de ficar sem óculos só pra curtir o mundo numa nova dimensão. Fica meio impressionista, tudo borrado, até mais bonito. E acho que por isso não me atrevo a virar usuário de Afrin e afins, para manter esse quase impressionismo olfativo.
domingo, 24 de julho de 2011
Melaleuca espiritual
Que sorte, penso eu. Perguntam se estou bem, alguma resposta mal criada até passa pela minha cabeça, tamanha a clareza que me envolve. Sinto que bateu, mas a dor não vem. Estranho. Um estranho familiar. Dos tombos de criança, dos ralados. Meu cotovelo pulsa, e entre minha clareza e meu bom senso me avisa estar mais ralado que o parmesão na macarronada que começaríamos a preparar.
Era domingo, daqueles azuis de veranico de inverno teimoso de país tropical. Tiram a bike de cima de mim. Voz conhecida, conforto. Tio é pai nessas horas. Sim, consigo levantar, acho. Hospital, bora, diz o atropelador. Aterrorizado está ele. Não eu.
Com uma frieza improvável, e louvável – modestamente – aceitei o Samaritano em detrimento da Santa Casa. Lá tem convênio, pensam. Já que to pagando Amil há um mês e meio, bora. Tio pergunta: ‘acha que quebrou?’. Acho que não, mas tá feio, foi ligamento, aposto.
A pergunta mais feita ao longo da semana foi: ‘doeu muito’. A resposta parece besta – e é mesmo – doeu pouco na hora, mas a consciência da adrenalina que me impedia de sofrer foi linda. Nunca estive num tiroteio, mas imagino que ser baleado num tiroteio deve ter esse gosto. A substância corre tão forte na veia que inibe que o cérebro processe o sentimento de ‘dor’, pura e simplesmente’. E ter a perfeita noção de que isso estava acontecendo, até quase uma hora depois, quando, apesar do coração acelerado, senti o excesso de tremedeiras a me levar a uma situação em que iria sucumbir. – Chefe, apressa o sedativo, vou entrar em choque, disse ao enfermeiro.
O tio disse que eu ‘tremia, coitadinho’. Mas falava, eu falava, procurava me divertir. A consciência me entretinha, fazia rir. Toca a dizer bobagem, porque se não resolve, alivia. Tipo na vida, mesmo. A dúvida do médico era: pro raio x direto ou sedativo? ‘Dopa eu, doutor’. Além de ser legal, vai ser muito necessário, porque só a ideia de dobrar o joelho e o tornozelo me arrepia nesse instante.
Leve, easy, amigável. Esse era eu depois de algumas cositas na veia. Me leva pra xerox. Tive certeza que o radiologista era corintiano só pelo jeito como gritou alguma coisa no fim do corredor. Mas me tratou feito são paulino. E eu gritei feito são paulino a cada movimento que ele pedia para encaixar o pé e o joelho. Pra cima, pra baixo, de lado, oblíquo. Isso porque foi com doping.
O Brasil haveria de ser eliminado nos pênaltis pelo Paraguai dali alguns minutos. Mas isso não importava. Sem fraturas, disse o doutorzinho. Mas tem lesão de tendão ou ligamentos. Só vai dar pra ver quando desinchar. Uma semana de tala de gesso.
E ela passou bem até. Em sete dias me alfabetizei com muletas, claro que ainda estou juntando sílabas, mas me comunico pela casa toda. Banho é um happening, can’t deny. Carinho, cuidados e atenção de todos. Até dos mais distantes. Enfim, na média, os ralados doeram mais.
E é aí, na sexta-feira, que entra a melaleuca. Plantinha australiana batuta, que vem em forma de óleo, para dissolver em creme. Potente. Cheiro forte, não desagradável. Recomendação da amiga e xamã Lisandra. Cicatrizante poderoso, como nunca imaginei. As casquinhas dos meus ralados foram-se indo formosas de ontem pra hoje, dando lugar a uma pele nova, rosada, mas forte apesar de jovem.
Mas quem sabe o que me interesse seja o que vem junto com essa cicatrização. O poder de ver sua pele se refazer hora a hora diante dos teus olhos também te faz refletir na capacidade das coisas dentro de você se reconstruírem, se reestruturarem e reerguerem. Robustas, fortalecidas e mais versáteis até. Gosto do conceito de resiliência, pela mobilidade e flexibilidade que implica.
O tombo, o acidente – seja lá como chame – não virou uma reflexão sobre pedalar ou não em São Paulo, mas algo maior. ‘Aproveita pra pensar na vida’, foi a segunda frase mais escutada na semana, depois de ‘você tá bem?’.
A imobilidade e a incapacidade física despertam outras capacidades. E perceber isso em uma semana de confinamento foi lindo. A reflexão, o entendimento e a percepção são uma espécie de melaleuca da alma.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Primeiro no vestibular
99% dos candidatos que passam nos primeiros lugares no vestibular são:
a) loucos
b) emocionalmente desequilibrados
c) chatos
d) esvaziados de inteligência emocional
e) todas as anteriores
Pode reparar naqueles caras que aparecem em outdoor de cursinho no começo do ano: tem sempre os campeões da Fuvest, da Poli e do ITA. Eles são potenciais alunos jubilados, vítimas de bullying e até matadores de criancinha. Ao longos desses tempos trabalhando com educação tenho colecionado histórias assombrosas sobre os 'geninhos' do vestibular. Em boa parte dos casos eles desvirtuam. Ou melhor, não virtuam, porque não tiveram base.
Comecei com um tom debochado, mas o que quero dizer é sério. Vestibular é um baita de um sistema de seleção. Em um país dominado pelo jeitinho, pelo dedo amigo da indicação política, pela camaradagem, conseguiu-se criar um filtro que avalia de forma correta. Mas não justa.
Primeiro porque os candidatos não estão em pé de igualdade, como se sabe o ensino médio brasileiro público é, em geral, muito fraco. Se a base é fraca, não é um ano de cursinho que o colocará no nível de um bom vestibular de faculdade pública.
Mas o principal agravante, na minha opinião, é que vestibular não filtra caráter, não seleciona necessariamente candidato com bom dicernimento emocional e capacidade de agregar nas aulas. O cara pode ser um gênio nas questões teste e até escritas, mas um alienado com as palavras, com a associação de ideias e um zero à esquerda nos debates, na interação com os colegas.
Qual a solução para isso? Confesso que não sei, mas alguns vestibulares como o da Direito FGV fazem entrevistas, dinâmica de grupo e outras atividades que têm funcionado bem. Claro que esse tipo de avaliação para escolher alunos de uma instituição pública (um curso superior completo custa entre 50 e 100 mil reais) poderia dar margens a todas as picaretagens das quais vangloriei os grandes vestibulares de estarem imunes.
Mas de uma coisa eu tenho certeza, o sistema atual ainda está longe do ideal no que diz respeito a peneirar as cabeças mais sãs. Não adianta achar que o cara que faz a melhor equação será o melhor profissional, o mais valorizado, e principalmente, alguém que tenha alguma preocupação em deixar esse lugar - leia-se: mundo - melhor.
domingo, 26 de junho de 2011
Mais três a um
Não levar gol ou comemorar três? Prefiro a segunda opção, porque é a menos fácil. Muitas vezes é ótimo uma vitória de lavada (que nem a de hoje, vale dizer - parabéns gambazada - vai ter troco) para animar um time. Mas os erros do adversário têm muito valor quando vêm acompanhados de aprendizado. E em geral, a gente aprende mais errando.
Não só nos campos, nos jogos, nos esportes. É importante saber tomar gol na vida, compreender essas pequenas derrotas do cotidiano. Perceber que o jogo não tá ganho te faz ficar alerta, esperto. Vitórias sem levar gols se tornam óbvias, rasas, previsíveis. E tudo nessa vida tem gols, só reparar.
E quando a gente toma um a gente acorda, a gente mexe no time, não sossega enquanto não ganhar a batalha. Tá meio Augusto Cury, mas é isso aí que eu tava pensando mesmo. Em suas pedreiras diárias, que tenhas em seus placares mais três a um do que dois a zeros.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Pela capa
Quem não julga um livro pela capa ou não nasceu no século XX ou tá mentindo. Claro que há ótimos livros que se salvam já pelo título, e também deve-se levar em conta que nem sempre a capa estampou algo mais do que os nomes da obra e do autor em caixa alta.
E ninguém se interessa (primeira impressão) por alguém se não tem afinidade por 'livros' daquele tamanho, cor, estilo. Se a arte da capa não empolga, vamos ao título. Nome em geral é mais pra criar aversão do que afinidade. Tem os 'normais' e os exóticos. A maior parte dos normais se atraem. Vira e mexe aparece um nome exótico que traz de quebra alguém bacana.
E o conteúdo, é igual a comprar livro. Se envolver com alguém é tarefa engraçada. Você folheia naquele começo, bate os olhos em alguns parágrafos, escuta umas histórias, pode dar umas risadas, se prender à leitura. Ou não.
A gente compra gente pela capa, pela folheada, pelo prefácio que algum amigo que te apresentou escreveu naquela mesa de bar. 'Você precisa conhecer uma amiga minha...'. Depois tem o primeiro capítulo, que é sempre delicado. A imersão. O segundo, o roteiro tem que fazer sentido. Se chegar até a página 50 sem ficar de saco cheio é bom sinal. Se passar da 51, vai tranquilamente até o fim.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora
O fluxo de ar que fazia a temperatura do meu nariz congelar na noite da última terça-feira - aka ontem - nem me fez desconfiar de que trazia duplamente os bons ventos do fim de ciclo.
Por um lado, é óbvio que eu estava ali naquele tobogã pacaembuense para uma despedida. Um triste, mas bonito e necessário adeus. Mais que útil, justo, com dignidade. Daqueles que valem por si só, pelo ritual, que só de existirem já são digníssimos. Despedidas assim são corretas e marcam o ponto final de um movimento - no caso dele - de uma carreira que valeu a pena. Tanto para ele quanto para o Brasil.
A uns mil quilômetros do Pacaembu, no Planalto Central, mais precisamente no palácio homônimo, um outro gordo, também se despedia. Muito menos carismático, muito menos craque e muito menos útil e relevante para a nação. Aquele que não tinha nada porque se despedir, pois nem sequer deveria estar ali. Muito menos mandando e desmandando.
Se tem um dos dois fora de forma que tem moral para ser estadista, sem dúvidas é o que foi flagrado com travestis num motel na Barra da Tijuca. Já o flagrado - twice, btw - fazendo falcatrua, é quem sempre sonhou com esse posto. Em vão, espero. Ora se utilizando de seu poder para bisbilhotar o sigilo bancário alheio, ora multiplicando seu patrimônio às custas do seu e do meu dinheiro.
A sensação de dever cumprido nos olhos lacrimejantes do rechonchudo atacante no centro do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho carregava a sobriedade e sinceridade de um estadista ideal. Não que fosse perfeito, mas tinha consciência de seus atos, gostava de servir o Brasil - claro, também serviu sua conta bancária, só que honestamente - e de fazer algo para alegrar, nem que por um grito de gol, a vida de milhões de pessoas. Apesar de fácil, aquele sorriso nunca foi amarelo.
A única coisa em comum entre Ronaldo e Palocci é que ambos estão gordos e largaram suas funções oficiais ontem. Por enquanto, a despedida ruim é a do futebol e a boa é a do campo político. A pena é que Ronaldo não volta aos gramados. E o outro não só volta a atuar, como certamente ainda vai atacar o seu bolso.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Um piano na noite
Muito bem tocado, entusiasmante. Leve, profundo. Tirei os fones do ouvido. Não tinha porque priorizar a afoita locução diante de um gesto de tamanha solidariedade. É de uma elegância ímpar quando alguém que detém a habilidade, quando não dom, de tocar um instrumento se propõe a dividir seus conhecimentos com os outros.
E nessas horas não é necessário saber o que está sendo tocado, apenas que pareça ou que soe belo. E isso sem dúvidas acontecia demais naqueles instantes. Era um homem alto, de rosto magro, angulado. Confesso que atravessaria a rua em condições normais. Jamais meu preconceito me permitiria imaginar que detinha tamanha arte nos dedos e menos ainda que era tão generoso.
Outros três transeuntes pararam o que faziam, e foram ali ganhar alguns minutinhos. Quem sabe atrasem uns 10 minutos. Mas assim como eu, acredito que chegarão em seus lares com o espírito melhorado, aliviado. Inspirado ou não pelos belos acordes, ao mesmo tempo lá no Paraguai, Neymar marcava mais um gol para o Santos.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Nem sempre o de sempre
Todo mundo sabe qual é seu prato preferido, a cor predileta, o jeans que mais gosta ou jeito como o pão na chapa fica mais gostoso. Ou um modelo de camiseta, cueca ou tênis que cai tão bem que não dá pra usar outro. Cada um tem um ou mais restaurantes onde vai para comer sempre a mesma coisa. E parece que uma vez que você descobre que gosta daquilo, daquele jeitinho, isso automaticamente diminui, quando não encerra, todas as outras maneiras de se fazer algo ou de se abrir para provar o diferente.
Quando o chapeiro da padaria sabe o ponto do seu pão só de te ver passar pela porta ou o atendente já sabe que seu cafezinho é com um pingo de leite, esquece, você dificilmente pede uma coxinha ou um cappuccino. E muitas vezes o tal cappuccino com coxinha poderia ser candidato ao novo favorito, destronando o menu ‘de sempre’. Até jornal é bom trocar de vez em quando. Nunca citei Da Vinci, mas vou ousar. Ele disse uma vez que quem fixa seu olhar numa única estrela não muda de ideia'.
É claro que ha circunstâncias em que ‘o de sempre’ é bom como nunca. Se passou uma temporada fora de casa ou teve que comer comida requentada ou preparada por namorada nova que ainda não sabe o ponto certo das coisas, tá valendo pedir o default. Se tá carente, tomou um pé ou tá muito tenso com o chefe?, vai lá também porque é mais que justo.
Dar uma chance para uma sensação nova é algo que estamos nos destreinando a fazer. Tudo é cada dia mais customizado ao gosto do freguês. Mas essa padronização tende a impedir a flexibilidade, a abertura ao novo. O imprevisível, o improvável.
‘O de sempre’ é segurança, é abraço de mãe, é o sem erro. Claro que é bom, mas assim como não existe perfeição sem repetição, não existe acerto sem erro. E pro tanto de coisa que se pode descobrir simplesmente experimentando o B em vez do A, talvez valha a pena não pedir sempre o de sempre.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
A promessa
No dia 16 de maio de 1991 morria minha avó. Eu queria muito entender o que tinha acontecido, minha mãe me contou que ela teve um derrame. Eu perguntei o que significava aquele nome horrível e explicou que era um rompimento de veias no cérebro. Indagada por mim sobre como isso acontecia, ela disse: o cigarro faz isso.
Me lembro com clareza como se fosse hoje. Do alto dos meus sete anos, me sentei em um degrau da escada acarpetada daquele sobrado onde morávamos, pensei que nunca mais iria ver minha avó (de fato não vi) e me prometi que nunca iria fumar um cigarro. Lógico que hoje eu sei que o cigarro não é a única causa de derrames, mas a promessa continua mais que forte. E a saudade também.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Bumerangue
Engraçado é que escrever aqui é, de certa forma, ir atrás. Muita gente vem parar aqui porque é meu amigo, conhecido ou NDA. O que escrevo aqui é num tom, numa pegada muito diferente da de segunda a sexta-feira. É algo com outro espírito. Sem querer querendo estou correndo atrás do leitor.
É desabafo meu, claro, mas de certa forma quero fazer isso ecoar nos outros. E é delicioso quando ecoa em amigos queridos, que há tempos não vejo. Quando algumas linhas suas fazem o leitor se dispor a doar algumas linhas dele para ti, me dá a sensação de que a missão foi cumprida. E ultimamente, que bom, parece estar sendo a contento.
terça-feira, 10 de maio de 2011
Cabelos normais
Vai, gordinho, me chama de careca. Você também narigudo. Ah, e você também vesguinho, me sacaneia, please. No fundo eu meu divirto. Na verdade as pessoas se diferenciam nos defeitos, e se tornam mais atrentes por conta deles. As imperfeições são a oportundiade de destacar o que se tem de melhor. É ali que a pessoa se diferencia, fazendo aparecer suas qualidades e tendo a chance de encantar quem quer que seja.
Bom, falei de cabelo. Falei de imperfeição e até filosofei (xexelentamente) sobre como utilizá-la a seu favor. Tudo isso porque não entendo pra que serve a denominação 'cabelos normais' impressa nas embalagens de xampu. E que, se normalmente todo mundo tem cabelos, provavelmente os meus devem ser anormais. Só que nunca vi xampu pra mim.