segunda-feira, 29 de março de 2010

Montinho de gente querida

Nos últimos anos não me lembro de nenhum em que eu tenha ganhado tantos presentes. Livros, roupas, queijos, CDs, cadernos, castanhas, tequilas, e até vidro de pimenta especialmente preparada pela vovó. Mas foi num flash, no sábado à noite, brisa leve no terraço gostoso, naquele lugar improvável, cerveja na mão, que eu tive um estalo clichê. Os presentes ali não eram importantes, o importante era a presença de cada um. Esticar os olhos 360º e avistar grande parte das pessoas que você realmente quer bem é o grande privilégio. Todos soltos, se divertindo. Muitos eu não via e não se viam há tempos, estavam alegríssimos. É bom ser a desculpa para reuni-los. Melhor ainda é ver gente que nunca se conheceria, mas que têm algo a ver só que você não sabe o que é, e que ali, debaixo do teu teto, comendo os falafels que você inventou de fazer, ficam próximas, chegadas. Mesmo não levando um longo papo com ninguém, porque quem recebe não para, a sensação de saber e não saber mais ou menos o que tá rolando em todas as conversas é constante. Moral da história, ano após ano, o que importa são as pessoas importantes.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Juntos pra que?

Na quarta-feira, lá pelas 15hs juntou um monte de gente lá na Candelária, no centro do belíssimo e abençoado município de São Sebastião do Rio de Janeiro. Juntou povo como não se via desde os caras pintadas, mar de gente mesmo. Protesto brabo. Pra derrubar um presidente? Pra protestar contra a corrupção que exala dos poros de grande partes de nossos governantes (e do povo também) e que impede o país de caminhar de fato? Pra fazer cair um presidente do Senado Federal que tem um mar de denúncias contra si? Pra pedir paz? Pra pedir mais segurança e uma Copa do Mundo e Jogos Olímpicos com planejamento e estrutura?

Não. Foram lutar por seu dinheiro.

Foram protestar contra a emenda do deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) que propunha dividir os royalties (valores que as empresas exploradoras pagam ao Governo Federal) de forma equitativa entre todos os estados da Nação. O Rio tem toda razão.

Desde 1992 não se via o povo nas ruas como na quarta-feira. Fico feliz de multidão reunida, anonimamente, gritando palavras de ordem e lutando pelo que é seu. O que incomoda é que isso só é feito quando mexem direto no bolso do povo, como foi o congelamento da poupança pelo Collor. Será que desde 92 não houve motivos para reunir uma multidão como essa para exigir atitudes?

Questões de ética, de paz, reivindicações por melhorias parecem ser desimportantes. Parece que o povo só sente poderoso quando quer, quando algum político afeta a parte mais sensível do corpo: o bolso. Deixando de lado e chutando pra escanteio a luta por aquilo que de fato é importante, o brasileiro dá um tiro no pé a longo prazo e agindo assim enterniza esse modo de agir.

terça-feira, 16 de março de 2010

Sobre perdão e rancor

Um filme que trate de perdão, crime e rancor já é pesado por definição, no seu âmago, mesmo se você o fizer em desenho animado, vide Valsa com Bashir. Um roteiro que conte a morte de uma garota linda estuprada e assassinada por um assassino misterioso, então, pode ser um enredo perfeito para provocar os instintos e a paz de qualquer um. Por isso vale muito a pena assistir O Segredo dos seus Olhos, filme argentino que faturou Oscar de melhor filme estrangeiro semana passada. Certamente o melhor filme que vi em 2010. Torçamos apenas para que os hermanos ganhando essa estatueta tirem o cavalinho da chuva na busca pelo caneco na África do Sul.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Amigos de primeira às segundas

Sabe quando você pensa numa pessoa, pensa em ligar ou mandar email, até acha um tempinho em que poderia ligar ou escrever, mas não faz nem uma coisa nem outra? Isso acontece cada vez mais nesse nosso dia a dia metido a exageradamente acelerado, mas no fundo talvez seja uma desculpa da pressa implacável para sermos os bons e velhos egoístas que sempre fomos. Daí no fim de uma segunda chata ou no começo de uma quarta-feira desanimadora a gente fica pensando que tá sozinho, que tá com saudades de fulano, que não vê ciclano há tempos, que poderia marcar um bar hoje à noite que não tem nada de importante. Mas não, a gente finge que não é com a gente e volta pra bolha.

Esse ano eu tinha me prometido que toda segunda eu ia tentar mandar um email ou ligar pra um amigo(a) que eu adoro, mas que está distante ou que nao falo faz tempo. É meu projeto amigo "Amigo de primeira às segundas-feiras". Sei que já chegamos em março, mas como o ano começa depois do carnaval, eu tô apenas um mesinho atrasado. Tudo isso isso pra falar que comecei hoje o projeto com uma amiga maravilhosa, divertida e que, se não morasse em Campinas, eu tentaria muito tomar uma breja logo. Até mesmo numa segundona.

foto daqui

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sacanagem gostosa

- Sem dó, pode maltratar pessoal.
- O importante é a gente se divertir.
- Meteu lá dentro, comemora.
- Vamo tentar uma nova posição? Tipo inventar moda, mesmo.
- Vamo arregaçar, amigo!
- Entrar com bola e tudo é pouco hoje.
- Hoje pode humiliar, tá combinado?
- Quando tiver bem por cima, pode dar aquela risadinha, tá?
- É pra dar de lavada.
- Hoje vai ter judiação, certo?

Até agora eu to pensando qual foi o briefing que o técnico Dorival Júnior passou pros Meninos da Vila antes de entrar em campo ontem contra o Naviraiense pela Copa do Brasil. Se você não tá sabendo, veja aqui o massacre por 10 a zero e as criativas comemorações. Massacre não, digamos que foi uma sacanagem gostosa e inspiradora pra esse nosso futebol burrocrático de ultimamente.

Anywhere

Pode acontecer no supermercado, ou então no trabalho. Pode acontecer numa viagem, tipo assim na praia ou no meio do mato. Pode acontecer num estádio de futebol, entre gritos de gol. Pode acontecer de dia ou de noite, de segunda a segunda. Pode acontecer num bar ou num parque. Pode acontecer numa balada ou numa igreja. Pode acontecer em Cuba, em Aruba ou em São Miguel Paulista. Pode acontecer no sol ou na chuva, com nativo, com turista. Pode acontecer na febre ou na saúde, na beira do mar ou no vale do Anhangabaú. Pode acontecer com advogado, taxista, catador de latinhas ou senador. Pode acontecer com socialite, com manicure, com babá, com secretária. Pode acontecer comigo e com você.
Acontecer do celular tremer em qualquer lugar, a qualquer hora e com qualquer humor, recebendo um sms da sua operadora anunciando que "na nova promoção fale em dobro, você ganha o dobro de créditos pra falar".

sexta-feira, 5 de março de 2010

A encharca ombros

- Desgraçado, aquele maldito. Bem que me falaram no começo, elas tinham razão. Cachorro, cachorro, feladaputa, aquele desgraçado! Por que eu, me explica? Por que??? Tava bom demais pra ser verdade, mas ele me paga o vagabundo. Sem vergonha, me paga! Eu mato aquele viado fiodumaégua! Ah se ele me aparece na minha frente, pode vir, pode vir que eu vou de facada naquele cuzão desonesto. Isso não se faz com ninguém, como é que eu pude cair nessa ladainha, me explica? Me explica!!! Você é meu amigo, não é? Tenho certeza que você não faria e nem nunca fez isso com ninguém, né Fe? Me jura que não! Me jura! Não dá pra acreditar na cara de pau desse idiota, não consigo nem me olhar no espelho, alguém me dá coragem!? Me dá!? Que que eu faço com esse traidor feladaputa? Mando matar ele, Fe? Tem uns caras lá da vizinhança daquela minha amiga lá que só precisam de um motivo, nem grana eles pedem, vou ligar pra ela. Quero vingança, não é justo, ele tem que pagar! Ele tem que pagar! Porra, pensa que é quem? Acha que nego veio pro mundo a passeio?! Acha que paixão é brincadeirinha, ah, como eu quero matar, como eu quero.

PS: Post de número 400 desse humilde diário não diário.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A zica do 4 março

- E daí que é 4 de março, vai dar merda, meu.
- Por que? Quem inventou essa zica foi, tatu.
- É científico: os dias 4 de março não gostam de mim.
- De onde você tirou isso?
- Já fui operado em 4 de março, já fui assaltado com arma na cabeça em 4 de março, já rompi relações ótimas em 4 de março, já quebrei o pé dia 4 de março, já tomei foras homéricos dia 4 de março, já internei minha mãe dia 4 de março, já...
- Para de viadagem, meu, tá acabando o dia e nada de graaave aconteceu.
- Mas dia 4 de março Dona Encrenca vem a galope. Anota o que eu te falando.
- Para de nhenhenhém, seu fresco do caralho.
- Você não conhece o dia 4 de março, não subestima ele...
- Esquece essa encanação e vai pra casa, daí amanhã você me conta.

Toca o celular.
Olhos param no visor.
- Vixe, olha só quem tá ligando.
Silêncio, olhos mais abertos que farol de fusca.
- Não disse que era 4 de março?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Comentários vagos e dispensáveis sobre filminhos do Oscar y otras cositas

A instigante Vera Farmiga pagando pau pro boa pinta Clooney

Produções da telona têm sido programa frequente nesses dias, com friozinho ou calorão, em que a preguiça me dá um mata leão aos finais de semana. O Oscar tá chegando aí no próximo domingo, dia 07/03 e eu só não vi Avatar ainda (não que tenha muita vontade, não). Enfim, quando não fui fagocitado pelo sofá, estive em salas sombrias da SP cinzenta (saudades, Homem Cinza) para conferir:

- Invictus
Filminho batuta pois conta um Mandela (interpretado com esmero por Morgan Freeman, quem mais? - Papel de presidente, diretor de escola e Deus, só dá ele, né?) que não conhecemos e que nunca ouvimos falar, um Nelson simpático e que enxergava no rugby uma forma de tentar unir um país rachado pelo Apartheid. Uma história que mostra o quanto um esporte pode funcionar como eixo de junção em um país completamente sequelado em termos de tolerância racial. Um esporte de burgueses, que concorre com o soccer dos pobres, é o pilar da película e a cola para juntar um povo disperso em ódio e descrença. Vale muito a pena pra tentar entender como um esporte cuja regra eu nunca entendi um cazzo consegue emocionar e arrepiar quase que no filme inteiro.

- Up in the Air (Amor sem Escalas)
Fraquinho, um pouco metido demais a analisar o comportamento pós moderno durante a última crise econômica, mas não é terrível. Não leva melhor filme nem a pau, Blumenau. George Clooney mostra que é bom, as usual, mas não é dessa vez também que fatura o bonequinho dourado. A mulher que faz par com ele, interpretada pela madura e sensual Vera Farmiga (indicada para atriz coadjuvante) é uma personagem très interessante e um dos pontos altos da pseudo-comédia-romântica-crítica-desse-mundo-louco-em-que-vivemos.

- A Serious Man (Um Homem Sério)
Primeiramente vale dizer que é um dos únicos filmes dos últimos tempos que teve tradução do nome literal, sem parecer concurso de piada de tradutores. Ainda tenho uma teoria que existe uma comissão de tradutores de nome de filmes que fazem campeonato pra ver que bola a versão mais tosca do nome original, sendo a pior ideia automaticamente a vencedora.
Enfim, o novo filme dos irmãos Cohen é muito bom, pode papar o Oscar de melhor produção sim. Focado no exagero dos traços dos personagens, a película procura mergulhar, nem tão fundo assim, no universo judaico de uma pequena cidade yankee. Um professor de física vê seu mundinho desabar quando se dá conta de que a mulher quer o divórcio, o filho de 13 anos é rebelde e maconheiro, a filha rouba dinheiro dele e o irmão é um fracassado. Daí ele, cético e pé atrás com a religião, corre atrás dos pitacos de três rabinos para se aconselhar. O rabino júnior tem uma cena só, mas a rouba de modo que você fica rindo dele até o final. Preste atenção.

- The Hurt Locker (Guerra ao Terror)
Disparado o mais tenso que eu vi nos últimos tempos. Pá, te prende, vixe, não dá pra pregar o olho, não. Pode ganhar melhor filme pelo impacto político que tem ao colocar o foco sobre os profissionais cuja tarefa (ingrata ou recompensadora?) é desarmar bombas no conflito do Iraque. O ator Jeremy Renner tem potencial pra arrancar a estatueta das mãos de Mr.Freeman, fiquemos de olho.

- Os Inquilinos (Os incomodados que se mudem)
Filminho nacional que não vai a Oscar nenhum, pero un poquito metido a suspense tensão mas que não convence muito. Sergio Bianchi já fez sua obra prima em Cronicamente Inviável (2000) e ficou muito longe dela dessa vez. O bom Marat Descartes interpreta Valter, que junto com a mulher, vivida por Ana Carbatti, é confrontado com o comportamento turbulento dos novos moradores e entram num clima de paranóia. Só isso mesmo, não empolgou muito, né?

terça-feira, 2 de março de 2010

Guerra besta

Ir no estádio como torcida adversária no Brasil é mais perigoso do que saltar de paraquedas. Acompanhe o raciocínio: são liberados cerca de 10% dos ingressos para o time visitante e que nenhum estádio brasileiro comporta hoje mais do que 100 mil pessoas, sua chance de estar ali é de 1 em 10 mil no máximo. Já a estatística de panes de paraquedas é de uma pra cada 15 mil saltos, sendo que acidentes com risco de morte são menos de 3 por ano no Brasil. Porém, num estádio ou nas cercanias, no meio de uma batalha campal, suas chances de tomar uma pedrada, paulada, ou um simples tiro é cada vez maior. Sem hipocrisia, me sinto mais seguro numa porta de avião a 12 mil pés.

Estava já dentro do Palestra Itália na semana passada quando meu amigo chegou atrasado contando que viu um cara sem camisa meio morto no Av. Antártica todo sangrando. Pelo que acompanhei posteriormente, ele não deve ter morrido, já que a única vítima fatal foi um palmeirense do interior matado no posto Lago Azul da Rodovia dos Bandeirantes. Mas isso não importa, estádio é lugar de ir ver e apoiar seu time, não de morrer por ele.

Pra que olhar o adversário como um inimigo só porque ele gosta de verde e eu não? Não dá para aceitar alguém que não é igual a você possa ter os mesmo direitos que você? E o pior é que esses caras que saem de casa pra guerra devem ter algum amigo ou familiar que torcem pro time que eles querem trucidar. Não há respeito ao adversário, parece que só enxergam a aniquilação do oponente. A luta simbólica do campo migra para o coração desse vândalo, travestido de torcedor, que não visa mais apoiar seu time, mas usá-lo de desculpa para descarregar suas raivas, angústias e adrenalina. Pra isso eu prefiro paraquedismo.