quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cheiros

Eu nunca tinha acordado de manhã e recolhido merda. Jamais tinha sido despertado por latidos vindos da sala. Ou trocado fraldas cheias de xixi antes de eu mesmo fazer xixi. Nem sequer tinha alimentado alguma coisa logo cedo antes de mim mesmo. Nem brincado de pega-pega com um espanador às 2 da manhã. Nem parado o que eu estou fazendo porque naquele momento ele poderia estar fazendo o que deveria fora do lugar em que deveria. Não é legal, mas é diferente.

Essa criatura aí de cima não apenas divide o mesmo teto que nós há três meses como mudou a nossa vida há três meses. Não porque seja fofo, simpático ou ingênuo, mas porque é tudo isso e um pouco mais. Um cachorro muda a vida de uma casa.
Muda a casa.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Passou

Começou o ano, mas não começou. Não estou entendêindo nada. Assim, desse jeito mesmo, com sotaque bem paulistano, do mais forte, que eu descobri ter mega carregado em 2010. Aliás em 2010 eu descobri um punhado de coisas que eu nem sabia. Que gosto de morango, que sei fingir que sei jogar sinuca, que imito Silvio Santos - ao que tudo indica - com alguma graça, que engano em portuñol, inclusive enrolando um peruano de que eu era seu conterrâneo. Posso passar dois dias sem dormir e parecer bem humorado. Te ligar de madrugada para contar que vi alguém que não tem a menor relevância para você. Escrever numa página da agenda as melhores pérolas dos meus amigos e colegas. Ler O Pequeno Príncipe e comentar com pessoas que jamais diriam que leram. Nadar por entre plânctons e fingir que sei explicar o que são os plânctons sem citar Jorge Ben e fazer até mesmo amigos inteligentes comprarem o barulho. Desfilar e rebaixar escola de samba em ótima companhia. Ver o melhor show da minha vida sem saber naquele momento que era o melhor show da minha vida. Ir a um lugar com 50 mil pessoas onde eu poderia encontrar todo mundo e não achar ninguém quase. Comprar uma bicicleta e poucas horas passar sobre ela. Que sei administrar minha casa, ainda que male-male, após 5 meses de ausência da chefia. Ter tesão em ser um servidor público, perceber que tinha alguns pequenos poderes que melhoravam, de fato, a vida das pessoas. Achar um trabalho em que sinto o maior prazer dar o máximo de mim o tempo todo, e de ter uma vontade que andava escondida de aprender, e aprender, e aprender. Sentir e participar da adrenalina de um fechamento de jornal, ver um furo nascer e acontecer e mudar a vida das pessoas. Perceber que me sinto, sim, mais sério a cada dia, mas que luto sem esforço para não deixar morrer esse moleque que mora dentro de mim.
Oba, já é 2011.