sexta-feira, 13 de março de 2009

Quando a balada vale por tudo o que não está dentro dela

O evento era colação de grau de um primo. Primo querido, sim, mas pô, lá em Santana, às 19hs de uma quitna-feira paulistana é dose, mas belê. Chegamos na hora, avistamos um estacionamento meio xexelento na Voluntários da Patria mesmo. Paramos na única vaga que podia levar a chave. Eu vi umas outras logo ali na frente, mas tinham cortininhas. Opa, estacionamento não era a única atividade daquele estacionamento. Quando deduzi isso um taxi entrou. Quantas vezes você já viu taxi entrar em estacionamento? Olhei direito e no banco de trás do bigode havia um pomposo travesti. Sim, cresci na Indianópolis e, mesmo míope, consigo diferenciar joio do trigo a mais de uma quadra. Fiquei só filmando a cena. Entraram na garagenzinha. Dali 3 minutos, a 'menina' sai e fecha a cortininha. Risadas e pronto, nossa noite já tinha uma comédinha pra contar.

Entramos no tal prédio da APCD e adivinhe: salão vazio. Po, em Sampa você se esforça pra estar no horário e não vale a pena, ô cidadezinha ingrata. Em vez de ficar resmungando, localizamos um buteco do outro lado da rua, onde umas geladas e um EXCELENTE frango a passarinho (8 real) aplacaram a fome, o mau humor e o atraso daquele monte de formando dentista que vai passar o resto da vida tomando bafo na cara.

Uma horinha depois, adentra um casal togado e maquiado, que conta que a coisa já tá começando. Quase pisando na calçada, o Datena berra na tevê do buteco que um pai se matou jogando um avião num shopping em Goiânia. Cacildis, diria o velho Mussum. E com a filha de 5 anos dentro, ô pisit! Meu instinto me fez parar uns 5 minuos ali na frente. E pensar que eu poderia tá lá me ferrando ao telefone para conseguir informações. Sim, meu currículo caiu na produção do Datena, para fazer câmera escondida. Imagina? Ai ai, deus não dá asa a cobra.

Entramos juntos com os formandos. Meu deus que coisa mais cafona. Cornetas a gás, muito barulho por um canudo. Tinha família com faixa. Pô, já pagou 5 anos de curso, economiza na faixa, vai? Por mim, por você, pelo Galvão, pelo Kassab. Mas não, nego levou até matraca e apito. A cada discurso era um flash e comemoração de gol. Era tão ridículo que valia as risadas. Os discursos eram uma sucessão dos trechos mais auto-ajuda da obra do Pessoa, vergonhosos. Uma puta rasgação, nem uma visão crítica ou realmente reflexiva sequer. E só se falava na qualidade do ensino, sendo que meu primo me entregou um tempo atrás que tem nego se formando quem nem sabe a diferença de um canino prum pré molar.

5 fotógrafos no palco pra depois cobrar 100 reais cada clique, e o pior é ue nego compra. Foto com o colega, com o capelo, mordendo o canudo, tipo baixaria mesmo. E tudo isso com a indefesa bandeira nacional como plano de fundo. Homenagem pra todo mundo, pros professores, diretores, coordenadores, faxineiros (é sério), pais, avós (vovó Lucy ganhou uma rosa e tudo), e aos próprios estudantes. Aliás, parece que ressucitaram um prêmio que tinha sido dado pela ultima vez em 1985 para agraciar a chorona Amanda. Essa Amanda foi ler um discurso lá e na 3a linha já tava chorando mais que o Ronaldo no domingo. Meu, a mina é uma heroína na Metodista. Aguentou 5 anos de Meto todo dia! E noite também, imagino, dada a quantidade de médias 10 que atribuiam a ela.

Pentelhação. Cabou a cerimônia, ueba! A mãe queria ir embora, eu quase entrei na onda. Algo me disse pra ficar mais um pouco. Encontrei um amigo de colégio, cujo Landau do pai me fez ter a certeza ainda absoluta de que quero um dia dirigir um daqueles. Papo vai, papo vem, vamo xispar.
Na saída, beijo rápido nos queridos. Chegada ao estacionamento, uma senhora com cara de muitos amigos e até que bem arrumada, mas com um belo dente faltando na frente, lança essa:
- O senhor é dono do Cross Fox preto?
- Não, sou dono de outro carro. Adivinhe qual é.
- Ai, moço, não sei. Moço, to toda tremendo.
- Imagino, com esse drive in bombando aqui deve ser uma tremedeira danada. Haja amortecedor!
- Ai, moço, para com isso. Acabaram de entrar 3 assaltantes armados aqui e levaram os 3 carros que tinham deixado a chave aqui.
- Eita. (estico o pescocinho e o possante de mainha ainda tá lá, a última vaga que dava pra levar a chave, ufa.)
- Tem seguro o estacionamento?
- Tem não, seu moço. Vão demolir isso aqui semana que ve e construir prédio em cima. Os donos têm que falar que tava parado na rua, senão o seguro não vai cobrir.
- Imagina 3 pessoas ligando, por exemplo, pra Porto Seguro e dizendo que foram roubadas com chave e tudo na Voluntários da Patria? Acho que não vai colar.
- Ai moço, to com medo ainda sabia? Mas quem se ferrou no fundo não fui eu.

É não foi você, querida. Foi o dono do Cross Fox preto, mais dois motoristas desavisados que buscavam economizar 2 reais e o seu dentista, que vai ter um trabalho da porra pra arrumar essa janela aí na frente amanhã. Aliás, pode ser até que o Cross Fox seja dele e você sabe que dentista com uma broca na mão é um bicho feroz. Daí você me conta quem se ferrou.

2 comentários:

Desabafa, querido.