terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sete vidas, assim espero

Daí que não que não tinha mais como frear. Era segurar o volante e fechar os olhos (no figurativo, claro). Se tentasse desviar capotaria o carro, fato. Com as pupilas mais arregaladas do que nunca parei uns 30 metros adiante e espiei no retrovisor. Lentamente vi o coitado do gato levantando e se arrastando até a guia. Outros carros esperavam já, não podia mais ficar parado. Respirei e segui adiante. Dali por diante meu culpômetro estorou o limite. E se eu tivesse parado, recolhido o gato e levado para o hospital veterinário? Além dos mil reais, que mais eu gastaria? Afeto? E se ele realmente tivesse conserto? E se eu me apegasse no bicho? Meu pai odeia gato e eu nunca poderia ter um em casa. E se ele fosse de alguém? E se nem foi tão grave? Que isso, mó porrada seca, cara. Se fosse uma criança você não dormiria nunca mais.

E se for mesmo verdade aquela história das 7 vidas? Bobagem, não adianta buscar consolo em lenda urbana, seu feladaputa, cê matou o gatou em prestações, agora ele tá lá agonizando naquele frio da porra e você no quentinho, tomando guaraná Schin. Telefonema amigo, socorro. Do outro lado da linha me colocam com um protetor dos animais que fez isso recentemente, e a irmã veterinária usou toda a argumentação pró "levanta-sacode a poeira e dá a volta por cima" já utilizada nas linhas acima.

Desliguei e botei minha cabeça nesse mode: a culpa não é sua se ele optou deliberadamente por atravessar a rua naquele momento. O chalalá auto absolvidor foi aos poucos me convencendo. Realmente quem não devia estar na rua era ele, quem tem que zelar por si é ele. Gato não morre, gato vira pele de tamborim e churrasquinho ao mesmo tempo. Ele nem era preto mesmo, pode não ter 7 vidas, mas eu não terei 7 anos de azar. Etc...

Se funcionou? Aham, funcionou nada. Agora, quase 48 horas depois do incidente ainda me dói o coração de pensar o que foi e o que será do pobre felino.

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