sexta-feira, 1 de abril de 2011

Além da vida


A tragédia virou História, que virou livro(s), que virou inspiração para diversos filmes. A queda do avião da Força Aérea Uruguaia nos Andes chilenos, em outubro de 1972, com 49 civis a bordo ficou marcada como uma das histórias de sobrevivência mais épicas da história. Se não a mais marcante, com certeza a mais polêmica, já que os 16 sobreviventes chegaram vivos ao cabo de 72 apenas comendo restos dos companheiros mortos.

Não é um livro que conta aquele canibalismo triste, dolorido, e imprescindível para seguir resistindo. Aborda a relação entre vida e morte com coragem, pois esta é fruto da sinceridade e transparência pois A Sociedade da Neve foi o primeiro livro com depoimentos escritos por cada um dos homens que voltaram para esta sociedade aqui. Esta sociedade confortável, que vai entrar no seu carro e ligar o ar condicionado, ou então a calefação com a temperatura despencar um pouco.

Passar noites a -30°C por mais de dois meses num abrigo precário feito com os restos da fuselagem, não ter nenhuma possibilidade de se alimentar com nada que não seja carne de cadáveres, enfrentar sem nenhuma estrutura fraturas e outros graves ferimentos. Essas foram algumas das encrencas que os homens lá em cima tiveram de lidar, e fica claro logo nas primeiras páginas que comer carne dos companheiros é algo com que lidavam naturalmente e até em tom de heroísmo, por dar ao morto o poder sem preço de perpetuar a vida dos companheiros.

Não penso que faria diferente, talvez sequer sobreviveria. Mas a obra trata de entender por diversos ângulos o que estar vivo e o que é estar morto, já que os 29 passageiros que inicialmente sobreviveram à queda foram dados como mortos cerca de 5 dias depois do acidente.

A Sociedade é uma explicação de como laços sólidos são formados, como se cria um apego fora do normal com pessoas que nunca se tinha visto. Como a vida do seu companheiro se torna inexplicavelmente mais importante que a sua e que essa troca mútua permite, de forma muitas vezes surrealista, que um não perca a esperança em ver o outro vivo e voltando aos braços da família. Faz ver sentido onde não tinha nada.

Livro bom pra chorar, e principalmente, excelente para sorrir.

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