sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Alheio

Eu não estava num elevador. Não estava no carro. Nem no Metrô. Não estava no trânsito. Sequer estava numa avenida movimentada. Nem numa porta de faculdade. Nem num buteco. Muito menos num restaurante. Não estava com uma mulher. Menos ainda com um cara. Não estava ao ar livre. Nem estava ocupado.

"Onde você estava?" Não tem pergunta mais 11 de setembro que essa. E depois do apagão na noite do último dia 10, voltou pro rol das mais frequentes. E malas.

Terça foi punk, fui um monge no trabalho, ouvi cada coisa, tipo um nível bem pesado. Fiquei quieto, mas descontei em quem não devia fora do trabalho, falei o que não devia, exagerei. Um mea-culpa aqui. Você sabe que é pra você. Tudo o que eu queria era calma, e lá estava eu, às 22h15 no melhor lugar em que poderia estar naquela terça-feira abafada com pinta de noite de verão em que muito trabalho, nhenhenhéns demais e resoluções de menos me tiraram o humor e as energias. Era lá que eu estava. Sofá da sala, janela aberta.

Tava pra começar o Furo MTV. O prato estava quente no meu colo, fome de dia todo. Tinha bife de ontem, ainda bom, suflê de ontem e mais alguma coisa antiga. Tava bom, juro, bem molhadinho, saboroso. A luz piscou. Olhei meio assim. Pernas estendidas no puf, o prato impedindo qualquer movimentação. "Pô, justo agora vai acabar a luz? Tenho mesmo que levantar pra tirar tudo da tomada? Será que ainda tem vela no armário da cozinha? Ah, acho que já já volta".

Achadas as velas, acostumadas as retinas, esfriada a comida, terminado o prato, interrompido os pensamentos mancos daquele fim de dia digno de ostracismo, escovei os dentes. Afinal, ainda tinha água na torneira sem saber que o "ainda" era "por enquanto". O escurinho ajudou a proporcionar um bocejo, reação em cadeia. Sonhei com alienígenas chegavam na terra, e quando acordei nem sonhava que o caos estave instalado. De verdade. E sem extra-terrestres. Gente dormindo na rua, sem conseguir ligar para casa, medo, pânico, do mesmo diretor de Independence Day e Guerra dos Mundos.

Todo mundo tem uma história do apagão. Menos eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Desabafa, querido.