quinta-feira, 27 de maio de 2010

As melhores coisas da vida?

Vi parte da minha vida passar na minha frente. Não, não foi cena do último salto, de uma pane de paraquedas, de um quase atropelamento ou colisão de carro. Foi cinema mesmo. Não, ainda não tive minha biografia adaptada para as telonas. Nem daria muita coisa, devo admitir. Vi tudo isso apenas olhando para um lugar, um cenário de filme.


Um lugar é muito mais do que o lugar em si. Quem já viu em fotos, no cinema ou na tevê lugares em que já esteve acaba voltando para lá. E a memória não traz apenas espaços, prédios, janelas, monumentos e cores. Carrega consigo cheiros, sons, ruídos, texturas, emoções não quantificáveis. À princípio, o que me levou a ver o filme As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanzky, foi o fato de ter conversado com ela ano passado e também de gostar muito de Bicho de Sete Cabeças (2001).


Mas o que me prendeu ao filme foi a locação, supreendentemente era a escola onde estudei dos 11 aos 19 anos. Coincidência ou empatia, ou as duas coisas, me vi ali naqueles corredores, quadras, pátios, biblioteca e até a sala dos professores, onde tomei broncas e puxões de orelha homéricos. Cada canto, cada curva, banheiro, armários e murais, tudo era mais que um cenário de cinema pra mim, era minha vida.


Os personagens, sim, algumas associações. Alguns me lembram algumas pessoas, adolescência, professores, gente bacana, ou trouxa. Ou eu mesmo. Nunca tinha sentido isso, mas me vi na tela, não no personagem principal, mas no todo, no conflito, no drama, no espaço. Mergulhei talvez nas minhas memórias mais inconscientes, no que me formou como pessoa, nos meus pilares. Meditei bastante a respeito depois do filme e quem sabe a única conclusão seja de que um lugar pode significar bem mais do que parece.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ah, aquele cheiro

De gasolina.
De pão de queijo saindo do forno.
De jasmim roubado no arbusto logo ali.
Dos metrôs novos.
De amor.
De vinho bom.
De sabonete de erva doce.
De parmesão torrado.
De feijoada num sábado sem mais nada à tarde.
Da Marginal quando você chega pela Ayrton Senna.
Das bancas da Doutor Arnaldo.
De adesivo recém impresso.
De vento.
De céu azul em Boituva.
De Ibirapuera amanhecendo.
De pipoca só com sal.
De limão espremido na lula à dorê.
De café na cama.
De preguiça com cerveja e risada.
Seu.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aquele lugar

Tem cheiro de erva doce, um perfuminho familiar. Em todo canto tem objetos que são como cartões de embarque para decolagens da memória. Tudo que de alguma forma fez parte de mim está ali, ou pelo menos parte de tudo. Aquele lugar me conhece como ninguém, me sinto netinho correndo em casa de vó. Mas a dona não é matriarca, é a vida. A vida que me fez voltar para lá com aqueles olhos, com os sentidos aguçados. Sempre piso ali, mas não como dessa vez. Chovia, cheirava, plantinhas de muitos odores. Cachorra histérica, agitada, antagonizava com a disritmia do meu respirar. Que moleza que me possuía quando acordei daquela siesta. Colchão de nuvem, voei por mares de descanso e de leveza. Aquele sábado poderia durar pra sempre, até porque a noite não terminou bem. Conforto é o carinho que um ambiente nos dá, e ali as paredes parecem fazer cafuné. Na marcha lenta, o sono da semana acumulado, a vontade de curtir o sábado irritando o anjinho que só queria a horizontal e tchau. Banho potente, a água caía dilacerando as células recém despertadas, desconforto. Mas o calor, o vapor, transformariam toda dor em conforto e tranquilidade. Não me tire deste banho nunca, não quero girar a torneira em sentido horário. Deixar a água escorrer é estilingar problemas, mau olhado. Bungy jump sem volta de energia inservível, sai coisa ruim. Massagem capilar de um netuno encanado, saudades do velho lar. Mais de um ano sem ver o mar, acredite. O Pacífico não conta, é sacanagem. O Atlântico é mais que pacífico para mim, aprendi a me acalmar ali, a deslizar ali, a tomar caldo e a respeitar o oceano ali. Ainda volto pra lá, com certeza eu volto pra lá. Naquele lugar, onde eu quiser.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A culpa é de todos nós

Dia desses eu tive o prazer de perguntar para um General do Exército Brasileiro a opinião dele sobre essa letra. E a resposta dele foi ótima:
- Todos nós temos culpa.

Hein?


Aluga-se

Raul Seixas

A solução pro nosso povo

Eu vou dar,
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...

Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel está prá alugar

terça-feira, 11 de maio de 2010

Jogo do bicho

Essa semana o Dunga acabou com o pingo de esperança que eu tinha em ir pra Argentina em julho ostentando folgada e romarianamente minha camisa canarinha. Hoje o Dunga provou que gaúcho é macho. Provou também que não precisa tomar Viagra porque já tem a cabeça dura. Que a seleção não precisa de Pato nem de Ganso porque já tem um jumento. Hoje demonstrou que é sizudo e que não aceita sugestões, apesar de ter testado mais jogador em 4 anos que todos os outros treinadores entre 1998 e 2006. Mas também mostrou como só sabemos reclamar, me incluo nessa.

Se o Brasil ganha, tá ruim. Se perde, é pior. O Dunga não tem culpa, tadinho, de acreditar no que quer. Todo mundo acredita que ele é burro e como se sabe, toda unanimidade é burra. "Rei, ó tempo rei", cantou Gil. E dois dias foi mais que tempo para eu perceber que não dá pra ficar xingando ele, que é melhor aceitar, que é o que temos pra hoje. C´est la vie, martela o clichê. Hakuna matata, diriam uns amigos quenianos engraçados.

Dunga classificou a seleça em primeiro, faturou Copa América e das Confederações. (Só não levou Olimpíadas, mas isso é mais difícil que o Corinthians ganhar Libertadores, hablo sério). Ok. E lembra do Felipão, que classificou o time na última rodada, suado, sofrido e chegou na Copa do Japão e da Coréia do Sul completamente desacreditado e trouxe o caneco. Os patos, gansos e burros que me desculpem, mas alguma pulguinha agora me diz que pode dar zebra.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Quem ri por último

Os corintianos e palmeirenses que me desculpem, mas quarta-feira foi bom demais. Ver os dois times eliminados da Libertadores e Copa do Brasil, respectivamente, é um prazer sádico de quem já ganhou 3 vezes o maior dos títulos latino-americanos. Aquele monte de foto no jornal de alvinegros encostados nas grades do Pacaembu, olhos de Droopy, não tem preço. Os palmeirenses nem se lamentaram porque sabem que com aquele timeco não a lugar algum. Fiquei feliz, isso é fato.

Mas sinceramente acho que a alegria vai durar pouco, porque se depois daquele sufoco nos pênaltis, na terça-feira, o São Paulo não pegar no tranco e criar raça (porque até agora parece um time de funcionários públicos esperando dar 5 horas pra ir embora), vamo tomar um couro do Cruzeiro. Ou seja, nem tudo está perdido para porquinhos e gambás: podem ir colocando a Brahma pra gelar porque vocês ainda podem rir por último. Mas cuidado, porque se o Tricolor passar pela raposa, vai sair correndo e não perde pra mais ninguém.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O melhor motor do mundo


Mulheres, acreditem, recebi isso de uma mulher.
E divido com qualquer sem tempo que esteja flanando por aqui.



PS: Parece que esse cara já foi da Poli em alguma encarnação.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Each one, each one

Ela aparece toda pintada de boneca, exercício da faculdade. Teatro é coisa de boneca, diria meu avô. Minha calça bali colorida contrasta com a camisa do meu clube, listrada vermelho, preto e branco. Ela avexada porque pegou metrô daquele jeito, eu insandecido porque meu time chutava a gol havia mais de meia hora sem parar e não colocava uma mísera bola lá dentro, cazzo. Passou lencinho umedecido e tirou a maquiagem. Ficou indignada que eu coloco camisa de futebol para ver futebol sem estar num estádio de futebol. Debochou sei lá de que. Minha garganta já ardia de tanto xingar nego perna de pau que joga bola parecendo funcionário público que só que caia logo a caneta. Ela queria contar histórias da faculdade, e eu do jogo. E no final acho que com pênaltis, gritos e xingamentos a torto e a direito, a gente conversou. Aliás, é do João Ubaldo o livro ótimo que você tá lendo, né?