quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mais que um destino, uma experiência


Férias é um lance doido, né? A gente vai estranho e volta diferente. Meio que não tinha rumo, a coisa ficou assim-assim, e os bons ventos me levaram para um lugar que, benzadeus, me faz um bem danado. Eram só 10 dias, também não dá pra volta ao mundo nem nada disso. Purgatório da beleza e do caos, cantaria uma fraca cantora local. Diria um outro que por estar de frente pro mar, de costas pra favela, é tão facil falar de coisas tão belas. Morros e mar e prédios e um povo superficial, mas profundamente interessante. O carioca é fascinante e irritantemente informal, do jeito que eu, paulistano (mêu), insisto (em vão) em dizer que não queria ser. Confesso, já me chamaram de "carioca wannabe".

É escrechado, é preocupado com o corpo, mas isso o torna saudável. Pô, qualquer vovô de bengala ali no calçadão domingo parecia mais saudável que eu, no meu inicial bronzeado de metrô. Carioca consegue ser revoltado e acomodado na mesma frase, eu também seria se morasse num cartão postal. Nem vem, avenida Paulista não é cartão postal de verdade, por mais que eu ame aquilo lá. Tá bom, é sorte ter os Dois Irmãos, o Arpoador, a Pedra da Gávea, a Lagoa, o Corcovado, mas é um povo que aprendeu a ser feliz num cartão postal. Os desgraçados sabem rir de si mesmo e poderiam nos dar aula, são leves e quiçá um pouco levianos, mas descontraídos por natureza. É a falsidade e deboche personificado no conceito de "simpatia é quase amor". Every fucking carioca tem seu charme.

Passar uns dias lá me dá a impressão de que se quer morar lá pra sempre, mas nem sempre estamos de férias e quando estamos ali de férias é difícil esquecer disso. Imerso numa terceira dimensão do bem estar, de chinelo e bermuda, mate e biscoito na mão, pareço mais um grão de areia, que não poderia estar em outro lugar. Incontáveis vezes sentado no Arpoador me peguei pensando a mesma coisa e constato que o Rio não é uma viagem, mas uma experiência. Não se viaja para lá, lá você se transforma. É única cidade que você não descobre, mas é ela quem te descobre. E a conclusão é uma só: fui engolido pela informalidade em estado bruto do caos travestido de paraíso.

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