Fazer um filme sobre frustração sem ser triste e tratar o arrependimento sem colocar o roteiro todo na fossa. Tarefa difícil, quiçá inusitada. E um roteiro sobre música clássica tenderia ainda mais a cair pelo caminho dos violinos chorosos. O Concerto conseguiu tocar em tudo isso, só que indo no contra tempo dessa métrica melancólica.
Um maestro, o mais genial deles, foi afastado de suas funções e trabalha como faxineiro do teatro Bolshoi de Moscou. Mas a música, especialmente a obra de Tchaikovsky o persegue, desde quando há 30 anos ele foi impedido de reger a orquestra no meio de um concerto por ter integrantes judeus, perseguidos pelo partido comunista.
Ao final de um triste dia de trabalho pesado, um fax endereçado ao atual diretor do Bolshoi é interceptado pelo ex-maestro antes de chegar ao seu destinatário. Um convite para se apresentar no esplêndido Teatro Chatelêt, em Paris. E num estalo ele resolve reunir seus componentes de três décadas atrás e levar 53 músicos substitutos para concretizar o tão sonhado concerto. E a graça começa ao tentar reunir os ex-colegas, espalhados em profissões esdrúxulas como chefe de tribo cigana motorista de ambulância e vigia de museu. E vai temperado com vodka, desencontros e presepadas.
Mesmo com ares de roteiro Hollywood ‘B’, o filme francês empolga, diverte e até faz pensar, mostrando como um roteiro bem feitinho pode fazer umas horinhas no cinema valerem a pena. E tudo isso embalado por uma trilha de Tchaikovsky, montagem competente e a beleza deslumbrante de Mélanie Laurent (a Shoshana de Bastardos Inglórios), é garantido que você não vai perder seu tempo. E ainda periga de sair chorando do cinema. Ou, no mínimo, arrepiado.
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Desabafa, querido.