quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nem sempre o de sempre

Todo mundo sabe qual é seu prato preferido, a cor predileta, o jeans que mais gosta ou jeito como o pão na chapa fica mais gostoso. Ou um modelo de camiseta, cueca ou tênis que cai tão bem que não dá pra usar outro. Cada um tem um ou mais restaurantes onde vai para comer sempre a mesma coisa. E parece que uma vez que você descobre que gosta daquilo, daquele jeitinho, isso automaticamente diminui, quando não encerra, todas as outras maneiras de se fazer algo ou de se abrir para provar o diferente.


Quando o chapeiro da padaria sabe o ponto do seu pão só de te ver passar pela porta ou o atendente já sabe que seu cafezinho é com um pingo de leite, esquece, você dificilmente pede uma coxinha ou um cappuccino. E muitas vezes o tal cappuccino com coxinha poderia ser candidato ao novo favorito, destronando o menu ‘de sempre’. Até jornal é bom trocar de vez em quando. Nunca citei Da Vinci, mas vou ousar. Ele disse uma vez que quem fixa seu olhar numa única estrela não muda de ideia'.


É claro que ha circunstâncias em que ‘o de sempre’ é bom como nunca. Se passou uma temporada fora de casa ou teve que comer comida requentada ou preparada por namorada nova que ainda não sabe o ponto certo das coisas, tá valendo pedir o default. Se tá carente, tomou um pé ou tá muito tenso com o chefe?, vai lá também porque é mais que justo.


Dar uma chance para uma sensação nova é algo que estamos nos destreinando a fazer. Tudo é cada dia mais customizado ao gosto do freguês. Mas essa padronização tende a impedir a flexibilidade, a abertura ao novo. O imprevisível, o improvável.


‘O de sempre’ é segurança, é abraço de mãe, é o sem erro. Claro que é bom, mas assim como não existe perfeição sem repetição, não existe acerto sem erro. E pro tanto de coisa que se pode descobrir simplesmente experimentando o B em vez do A, talvez valha a pena não pedir sempre o de sempre.

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