Mãe, entendo suas preocupações. A bicicleta não é um viés para me machucar. Eu, embora não pareça, não curto ficar ralado ou com pé quebrado e usando muletas. É uma forma saudável que encontrei de me exercitar e me manter bem. É a minha hidroginástica. Enquanto eu posso. Já já vai ser otura coisa. Me faz bem, me faz sentir alerta, estimula mil sentidos. A cabeça funciona que é uma beleza.
Aliás, quando foi a ultima vez que voce me viu acordando num domingo as 8 da manhã por vontade própria? Pois é, fiz isso hoje. Com um sorriso no rosto. E quando vi que choviscava lá fora fiquei ainda mais orgulhoso, porque já estava de pé e não voltaria pra cama. E foi debaixo de garoa que eu pedalei boa parte dos 27km de hoje. A outra parte foi debaixo de um toró terrível ali na região do Jockey Club. Arrependimento? Nenhum. Raiva da chuva? Nenhuma. Eu estava lá, e ela também estava lá por alguma razão.
Interpretei que foi para me dar uma prévia do que será a descida dos 80 km da Serra do Mar na quarta-feira. Não, não é pela Estrada Velha, mas pelas novas estradas de manutenção da Ecovias. Olha que bacana essa oportunidade, olha que legal seu filho percorrendo a serra que os jesuítas subiram, não em lombo de burro, mas num veículo impulsionado por ele mesmo. Um veículo que faz ele se sentir vivo, com o maldito e abençoado vento no rosto. E a impagável sensação de estar vivo. Continuo te amando e sendo seu filho de sempre. Mas me desculpe, pois não vou desistir sem tentar.
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Desabafa, querido.