domingo, 8 de janeiro de 2012

2011, um ano muito

Parado desde o ano passado, esse blog renasce mais uma vez com a missão de olhar pra trás e – com alguma saudade, afinal – relembrar porque 2011 foi tão cheio. Se um ano passa voando (clichê number one) é porque os acontecimentos que o permearam tiveram de extrema intensidade, somando-se e dando significado a vários outros em nossas vida.


Quase um programa careta com Sérgio Chapelin e Glória Maria apresentando numa antiga ruína meio esquisita no Rio de Janeiro, esta retrospectiva leva em conta só o que achei útil pra minha vida mesmo. Considero um registro particular quase público do que me foi importante em 2011. Obviamente, o 100% particular tá registrado num notebook, de papel, muito menos efêmero que esse bytes que enxergas agora.


Os que se indignam, quer seja com o fato de o primeiro ano de governo Dilma ter sido recheado por escândalos de corrupção que derrubaram 7 ministros da base aliada – tutti buona gente – ou com o fato de terem ousado comparar Neymar a Messi e o Santos ao Barcelona, encontraram em 2011 seu ano símbolo. Finalmente alguma gente percebeu que tem demasiada coisa errada com muito poder concentrado nas mãos de muito poucos. Claro, a internet é a estrada por onde correm as informações, as mobilizações e as segundas versões.


Foi justamente buscando criar uma segunda versão para a história contemporânea que a chamada Primavera Árabe tocou fogo ao próprio corpo para mostrar ao mundo que imolar-se pode dar sentido à busca de um mundo melhor, por meio de mobilizações populares e da busca por algo mais democrático. Não sou ingênuo de cogitar que dessas inspiradoras revoltas não surgirão governos fundamentalistas e que, em pouquíssimos casos, espero, sentiremos saudades dos antigos déspotas.


Por falar neles, junto com Nero, a palavra ‘déspota’ aparece imediatamente no meu imaginário associada a Muamar Kadafi. Pelo menos até pouco tempo atrás. Confesso que quando a bagunça começou na Tunísia eu apostaria que jamais chegaria à Líbia, pois imaginava que o sistema de contrarrevolução interno deles fosse um dos mais sofisticados – não justos, claro – do mundo. Ah, como eu adoro me enganar.


Ao que pareceu, o povo, apoiado (ou completamente facilitado pela OTAN), tomou o poder e encerrou mais de 40 anos de regime militar. O fim de Kadafi achei triste e acho que as coberturas da mídia teimaram em apoiar a tese de que a justiça se fez, quando o que se fez foi um linchamento público brutal. Desnecessário e injusto, mas talvez inevitável. Não sei como eu reagiria se surpreendesse o ditador que tocou o terror no meu país por 40 anos escondido dentro de um duto. Talvez fizesse pior. É muito fácil falar de longe.


Dois jornalistas brasileiros pagaram o preço de se fazer uma cobertura real in loco. O Andrei Netto, do Estadão, passou 8 dias preso na Líbia – e contou pra gente durante quase duas horas detalhes de tudo. Surreal a diferença entre ler e olhar nos olhos de quem sofreu tal violência. O outro foi o Germano Assad, que apesar de ter o mesmo sobrenome do ditador sírio, passou algumas terríveis noites numa prisão na Síria, apenas porque estava no lugar errado na hora errada.


Enfrentar as forças do governo virou um belo de um hobby mundial. Que bom. Na Grécia, na Espanha, no Chile, em Nova York. Sim, por motivos diferentes, mas sempre abastecidos pela indignação e pelo descaso com a lida do que é público, da gestão de Estados, das prioridades reais das nações. Para colocar o dedo na ferida do atual sistema econômico financeiro. Tomara que se conscientizar e se politizar seja algo que tome mais do que centros de cidades de todo o mundo, que ocupe os pensamentos e os debates em todas as áreas. Que não falte combustível e torque em 2012.


Oxalá o mesmo ânimo contagie o governo Dilma, que fique mais para a faxina e menos para debaixo do tapete. Sinto as boas intenções sinceras na presidente, mas a vejo cercada de tubarões que cobram pedágios para que governe. Nossa agora sexta economia do mundo merece ser mais que uma economia poderosa, e deve olhar essa ultrapassagem sobre a Inglaterra como uma oportunidade de melhorar as desigualdades. Repensar sua relação com poder, e corrupção.


Punir e mostrar que é possível castigar deve ser exemplo por aqui, num ano em que os acidentes de carro e atropelamentos com morte deram um boom (na mídia também, lógico), se faz urgente uma mudança significativa na lei. Mas ainda acho que um mensalão, uma CPI de fachada ou um aumento exponencial de patrimônio são muito mais escandalosos do que um Camaro com um babaca no volante ou um atropelamento de alguém que poderia ser um amigo meu na Vila Madalena. Estamos sendo todos lesados, calados, coniventes.


Mas claro que há mudanças. 2011 foi o ano das marchas: marcha pela consciência no trânsito, marcha das vagabundas, marcha da maconha (ei, polícia, maconha é uma delícia – bradavam) e a marcha da liberdade, pelo direito de fazer marchas. Precisamos sim continuar marchando, mas tomando cuidado para não virar carne de vaca. Por falar em carne, rolou o inesquecível churrascão da gente diferenciada, em Higienópolis, após uma senhora demonstrar a resistente ignorância crônica da nossa classe dominante.


Ano de muitas greves, de bancários e carteiros até coveiros – sinal mínimo de que algumas coisas estão erradas até mesmo na fantástica terra das Casas Bahia. Unificar as organizações das passeatas e escolher um tema de cada vez podem ser um caminho.


Palco de marchas e manifestações politicas, a Avenida Paulista foi em 2011 – de novo – cenário de perseguições e atos homofóbicos. Palhaçada. E o país quer ser mais que a Inglaterra. Lá perto da Paulista abriu a famosa linha 4 Amarela, depois de 15 anos anunciada pelo PSDB. Realmente transporte público de massa ainda não é prioridade tucana, de fato. Logo ali, na Consolação, o Belas Artes fechou suas portas e acabou para sempre. Uma tristeza infinita para quem gosta de cinema em Sampa.


Uns que queriam virar personagem de cinema, mas viraram de pastelão americano foram os invasores da Reitoria da USP. Completamente sem necessidade e sem a menor noção de diálogo e liderança, se deixaram fotografar levando centenas de latas de cerveja para dentro do prédio – desacreditando completamente ‘o movimento’ perante a opinião pública. E o pior, é que ao não deixarem jornalistas entrarem lá, permitiram que a PM agisse com a truculência que deve ter agido e plantado os coquetéis molotov que exibiu em rede nacional. Faltou bom senso de ambas as partes, e ninguém virou mártir nem bandido. By the way, formado na FEA e na Poli, o prefeito Kassab criou um partido, fudeu – mais ainda – a cidade e aumento a passagem de ônibus pra R$ 3. E continua cínico e dissimulado.


Já pra mim, a USP marcou por conta da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva. Não que eu conhecesse ele, longe disso. Infelizmente acabei atuando muito na cobertura de sua morte e acidentalmente fiz as vezes de repórter investigativo. Sem dúvidas um dos dias mais exaustivos e com mais energia negativa de toda minha (ainda curta) carreira profissional. Outro ponto baixo energeticamente foi o massacre de Realengo que virou matéria de uma página no metrópole feita junto com meu colega e amigo Carlos Lordelo. Nesse dia eu saí absolutamente morto. Assim como todo o Brasil.


Impossível também foi não se emocionar com as imagens assustadoras do tsunami no Japão e das histórias horripilantes da região serrana do Rio. Por outro lado, a tão sonhada (pelo mundo ou só pelos americanos!?) imagem de Osama Bin Laden morto não veio à tona, nem na era dos vazamentos internéticos.


Não dá pra terminar o ano sem falar do Zé Love, vulgo Zé Eduardo, jogador medíocre que conseguiu ser campeão da Libertadores da América pelo Santos. Ele, junto com Bruno de Luca – que namora a Miss Brasil – e, Justin Bieber – que encheu 2 Morumbis inteiros, me fazem chegar nas perspectivas para esse ano. Se eles conseguiram tudo isso, acho que a gente consegue ter um 2012 melhorzinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Desabafa, querido.