segunda-feira, 19 de julho de 2010
O que era aquilo?
Nem tinha pra ninguém lá não. Pra tudo quanto era lado que se olhava era aquele negócio de doer os olhos de tão harmonioso, cada imperfeição milimétricamente no lugar. Uma beleza que enchia seu esquecimento mais profundo, seu vacilo, seu erro. Ela estava no salão todo, chefia. Sua imperfeição perfeita refletia nas pupilas de cada criatura incrédula com aquela sacanagem de Deus. Desfilava sua retumbância na pista, pretendendo ser discreta. Olhando e, mais que tudo, sendo olhada. Risada maquiada no canto da boca, fingia a normalidade, que se esvaia quando o cheiro dela passava por nós. Contando nem eu acredito.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
O fim se anuncia, Josefa
Josefa, hoje não vou dormir. Não me acorde antes da hora de estar atrasado amanhã. Josefa, me deixa ser feliz por uma noite e me levar pelo frio das horas que se aproximam. Tenho preguiça de ter preguiça com a temperatura que despenca. A preguiça e a vontade de se recolher são óbvias, minha nega, e eu adoro o complicado. Quem sabe você sinta isso nas vezes em que vai escolher um tomate na feira e, apesar de achar bons tomates, ainda fica procurando por um melhor. O melhor que não se sabe, que não dá pra explicar. O melhor pra mim essa noite, Josefa, nem eu sei. Nem eu, nem a noite.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Íntimo e impessoal
Sabe quando você esquece o nome daquela pessoa que você precisa chamar? Às vezes você nunca soube, mas fica chato chamar de "Ô", meio mal educado. Para isso os povos inventaram os pronomes de improviso que chegam até a parecer carinhosos sem parecerem vulgares. Eu particularmente odeio o "querid(ã)o", porque se o cara me quer já não tá bacana a coisa, saca?
Vamos a uma lista chula e de bate pronto.
- chefe
- chefia
- parceiro
- cumpadi
- meu
- amigo
- amigão
- querido
- queridão
- lindão
- meu camarada
- brother
- tio
Vamos a uma lista chula e de bate pronto.
- chefe
- chefia
- parceiro
- cumpadi
- meu
- amigo
- amigão
- querido
- queridão
- lindão
- meu camarada
- brother
- tio
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Verbos
Soltando os verbos. Alguns bons.
Ver, ser, ler, escutar, fazer, resolver, pensar, sonhar, escrever, perdoar, perder, aprender, entender, explicar, doar, degustar, caminhar, voar, gargalhar, beber, apalpar, viajar, cafunezar, perguntar, responder, apreciar, solidarizar, lembrar, amar, respeitar, improvisar, celebrar, meditar, assistir, surfar, viver.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Flutuar
Nega, quanta coisa na mente. To louco pra assistir o jogo do chucrute contra a paella. Não queria que a copa acabasse. Muito bom ficar nesse semi carnaval durante um mes, este estado de alfa, semi anestesia generalizada na população todinha. Gostoso sentir essa euforia com a coisa mais importante dentre as menos importantes. Nesse momento ela vira a mais importante das coisas e no fim já pouco importa quem ganhou quem perdeu. As emoções, já diria Robertão, o sábio caboclo, essas sim são importantes de serem vividas e lembradas como merecem. O abraço que demos na copa de 2002 e meu pai chorando em 94, acha que eu esqueço? Gritando na rua, ali na Faria Lima, pegando busão pra casa da tia, doido, anestesiado, flutuando. Queria estar daquele jeito agora. Como diria uma frase de um muro da vida: "queria ser o que eu era quando queria ser o que sou agora".
terça-feira, 6 de julho de 2010
Um pouco delas
A indecifrável mensagem nos olhos daquelas todas que você não saca qual é a dela de primeira. Nem de segunda. Que fazem sentido sem ser nenhum um pouco claras. Do tipo que pode pentear o cabelo a tarde toda que não fica mais linda do que quando está despenteada. E as que pegam na mão enquanto beijam e as que não pegam na mão enquanto beijam. Que brincam de sumir por algum tempo no fundo esperando que você suma mais que elas, mas que sempre saiba a hora certa de aparecer. A hora certa pra elas, claro. Seus humores previsíveis como o tempo no verão: só se sabe que vai chover. Quando, não importa. Desejos e segredos improváveis e impublicáveis que adoramos descobrir, e mais ainda, não saber. Quanto mais se sabe sobre elas mais se sabe que pouco sabe sobre elas. Saber que quanto mais mar se navega, mais mar se tem para navegar. E como é bom se declarar marinheiro sem porto, à espera daquilo tudo que espera o tempo certo sem ser nenhum um pouco previsível.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
A cagada de Sergio
Acordou naquela manhã e viu que não tinha feito direito. Que nada do que pensava ter completado estava no lugar, não resistiria a uma pergunta mais bem colocada do chefe. Parecia feito para dar errado. Sergio fez o raciocínio errado, projeto errado, execução então, vixe. Para quem iria a culpa, já que toda a culpa era dele e só dele?
Como é que um cagão que nem eu vai explicar uma merda duma ideia dessa? - pensou alto pela rua de dúvidas. Pedir ajuda, pra quem? Não, o Jonas da Coordenação, não. Nossa, muito menos para a Ju do Institucional. Quem sabe o Torres, aquele baixinho com tique lá da Supervisão 2 pode dar um tapa até o final da manhã e me ajudar a entregar uma... merda menos fedida, digamos assim. Até aqui não parei de pensar em voz alta, cansei de ser olhado de fora.
Vamo mudar essa visão. Sou o Sergio, levei com a barriga, fiz cagada, não cumpri com minha responsa e agora quero empurrar a merda pra alguém. É, tô legal de tomar come de chefe corno e sem moral. Era um projeto medíocre e tosco que ninguém ali faria melhor. Então lá fui eu levar com o pé nas costas sabendo no fundo que não ia dar em nada.
Mas pego na surpresa fui quando me avisaram que não daria para resolver a bosta que eu tinha feito e muito menos deixar bonito para os acionistas verem. Ia voar dejetos em todas filiais. Não teve relatório, protocolo, ameaça que fizesse aquilo se organizar. Estava fadado ao fracasso. A apresentação era às 9 em ponto, e o diretor da bagaça gostava de ficar ali na porta do elevador gritando com quem atrasasse um minuto.
Cheguei sete minutos atrasado, esbaforido, pizza debaixo do braço. Chacota. Peguei elevador, ouvi gritos ao fundo, me apressei. Subi, sala de reunião. Pen drive no data show, ô power point lento da porra, não entra. Vai, abre logo. Pronto, abriu. O crápula estava entrando na sala e eu ia apresentar aquela merda, aquela bela merda, devo acrescentar. Nem um moleque da UNIP faria uma daquelas, Sergio, como você é cabaço. Ele pegou um café, puxou a cadeira, olhou pra minha cara com cara de quem vai tirar sangue, pro telão com cara de deboche. Abriram a porta, era uma secretária:
- Pessoal, jogaram um avião nas torres gêmeas.
Sergio, no caso eu, nem sabia quem era Bin Laden, mas já agradecia a ele.
Como é que um cagão que nem eu vai explicar uma merda duma ideia dessa? - pensou alto pela rua de dúvidas. Pedir ajuda, pra quem? Não, o Jonas da Coordenação, não. Nossa, muito menos para a Ju do Institucional. Quem sabe o Torres, aquele baixinho com tique lá da Supervisão 2 pode dar um tapa até o final da manhã e me ajudar a entregar uma... merda menos fedida, digamos assim. Até aqui não parei de pensar em voz alta, cansei de ser olhado de fora.
Vamo mudar essa visão. Sou o Sergio, levei com a barriga, fiz cagada, não cumpri com minha responsa e agora quero empurrar a merda pra alguém. É, tô legal de tomar come de chefe corno e sem moral. Era um projeto medíocre e tosco que ninguém ali faria melhor. Então lá fui eu levar com o pé nas costas sabendo no fundo que não ia dar em nada.
Mas pego na surpresa fui quando me avisaram que não daria para resolver a bosta que eu tinha feito e muito menos deixar bonito para os acionistas verem. Ia voar dejetos em todas filiais. Não teve relatório, protocolo, ameaça que fizesse aquilo se organizar. Estava fadado ao fracasso. A apresentação era às 9 em ponto, e o diretor da bagaça gostava de ficar ali na porta do elevador gritando com quem atrasasse um minuto.
Cheguei sete minutos atrasado, esbaforido, pizza debaixo do braço. Chacota. Peguei elevador, ouvi gritos ao fundo, me apressei. Subi, sala de reunião. Pen drive no data show, ô power point lento da porra, não entra. Vai, abre logo. Pronto, abriu. O crápula estava entrando na sala e eu ia apresentar aquela merda, aquela bela merda, devo acrescentar. Nem um moleque da UNIP faria uma daquelas, Sergio, como você é cabaço. Ele pegou um café, puxou a cadeira, olhou pra minha cara com cara de quem vai tirar sangue, pro telão com cara de deboche. Abriram a porta, era uma secretária:
- Pessoal, jogaram um avião nas torres gêmeas.
Sergio, no caso eu, nem sabia quem era Bin Laden, mas já agradecia a ele.
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