segunda-feira, 21 de março de 2011
Improdução
Mais que nada, fiz o básico para não fazer mais do que o necessário.
Depois, listei o necessário, para que fosse feito o mais devagar possível.
Necessariamente perdi tempo, mas não necessitei de ajuda.
Sei ser desnecessário sozinho, desnecessistar de uma mão.
E necessito de ideias e de palavras, até o momento,
Ainda bem,
Em que se tornam desnecessárias.
domingo, 20 de março de 2011
Desorganizando eu posso me organizar
Encontrei com o que eu era ontem. E anteontem, há muitos anos, e sempre. Dei de cara comigo mesmo naquele monte de coisas que acumulei por toda a vida. Não mexia naqueles armários e gavetas ha uns 15 anos, retirei 5 sacos de 100 litros no total, 3 foram para o lixo, 2 para doação. Carrinhos, suvenirs, fotos, livros, diários de viagem, bilhetes e outras milongas. E foi vindo coisa, lembrança.
Veio cartão de visita de político picareta, broche de NY, camiseta da sexta série assinada (com xingamentos e tudo!), pilha velha. Roupinha de quando eu era bebê, faca de mergulho, livro de auto ajuda, disco de hockey. Ou quem diria que eu reveria aquele pingente que eu ganhei de alguém que foi importante? Um rótulo de cerveja que lembra uma noite incrível, um livrinho de piadas do Ary Toledo. Miniaturas de torres, Eiffel e Pisa.
Mini coleção de foto 3x4 de gente que eu não faço nem ideia do que está fazendo da vida. Mas que foi especial. Letras de música que eu copiei, letras de música que eu inventei, letras de música que eu rasguei, mas não tive coragem de jogar fora. Estojo de aquarela, manuais de instrução, credenciais esquecidas de eventos inesquecíveis.
Carteirinha de estudante/passe de ônibus de 2002, e a de 1998 e a de 1999 também. Apostila de cursos de formação em esportes perigosos, livro com foto de todos do colégio, caneca com a Union Jack que eu não faço a menor ideia de como veio parar aqui.
Disquetes com toda minha (pouca) produção intelecutal até 2005. Radiografias, bolos delas, não sei como posso ter quebrado tanto osso. National Geographics antigas e lindas, colares e pedrinhas que ganhei de presente. Playboy da Feiticeira autografada.
Apareceu Nevermind do Nirvana, em k7, comprada no Hotel Taj Mahal em Mumbai (aquele que em 2008 foi invadido por atiradores, lembra?). Achei também muita coisa que não faz mais parte de mim. E só guardei o que valerá a pena lembrar na próxima arrumação.
terça-feira, 15 de março de 2011
Desconcertando-se
Fazer um filme sobre frustração sem ser triste e tratar o arrependimento sem colocar o roteiro todo na fossa. Tarefa difícil, quiçá inusitada. E um roteiro sobre música clássica tenderia ainda mais a cair pelo caminho dos violinos chorosos. O Concerto conseguiu tocar em tudo isso, só que indo no contra tempo dessa métrica melancólica.
Um maestro, o mais genial deles, foi afastado de suas funções e trabalha como faxineiro do teatro Bolshoi de Moscou. Mas a música, especialmente a obra de Tchaikovsky o persegue, desde quando há 30 anos ele foi impedido de reger a orquestra no meio de um concerto por ter integrantes judeus, perseguidos pelo partido comunista.
Ao final de um triste dia de trabalho pesado, um fax endereçado ao atual diretor do Bolshoi é interceptado pelo ex-maestro antes de chegar ao seu destinatário. Um convite para se apresentar no esplêndido Teatro Chatelêt, em Paris. E num estalo ele resolve reunir seus componentes de três décadas atrás e levar 53 músicos substitutos para concretizar o tão sonhado concerto. E a graça começa ao tentar reunir os ex-colegas, espalhados em profissões esdrúxulas como chefe de tribo cigana motorista de ambulância e vigia de museu. E vai temperado com vodka, desencontros e presepadas.
Mesmo com ares de roteiro Hollywood ‘B’, o filme francês empolga, diverte e até faz pensar, mostrando como um roteiro bem feitinho pode fazer umas horinhas no cinema valerem a pena. E tudo isso embalado por uma trilha de Tchaikovsky, montagem competente e a beleza deslumbrante de Mélanie Laurent (a Shoshana de Bastardos Inglórios), é garantido que você não vai perder seu tempo. E ainda periga de sair chorando do cinema. Ou, no mínimo, arrepiado.
domingo, 13 de março de 2011
Coisa séria
Se eu caio no suíngue é pra me consolar. Pode parecer bagunça para você, mas para mim carnaval é uma das épocas mais sérias do ano. Não, não organizo bloco nem tampouco tenho responsabilidades como carnavalesco de escola alguma. Não fico de plantão (pelo menos não dessa vez) e não acompanho ponto a ponto a apuração.
A seriedade está na tomada de consciência do momento que ele representa no contexto do ano. É olhando de longe, vendo aqueles ínfinmos 5 dias em meio aos 365 que percebo o quanto são preciosos. O quanto não são comuns e o quanto podemos (e devemos, na minha modesta opinião, usufruir). Quando mais no ano é tão permitido permitir?
Não se trata de sair se jogando em quaisquer braços, embora isso seja demasiadamente aceito e encorajado. Nem mesmo de embriagar-se como se não houvesse amanhã - porque daí você vai lembrar do quê?. Quem sabe seja sobre festejar uma catarse, um transe coletivo de desejo de bem estar mútuo, ainda que efêmero. Talvez seja sobre ser feliz, sobre possibilidades, sobre entender liberdades, sobre escolher liberdades. Sobre ser livre, ainda que de mãos dadas com alguém ou com a cabeça em alguém, não importa.
O que importa é que não pode ser normal. Não pode ser mais um feriado. Em qualquer outro país até poderia, aqui não. Nosso País tem isso no DNA, tudo bem que não é todo mundo que sabe que tem, mas qualquer um pode querer encontrar. Quando a pessoa consegue perceber a graça da fantasia, do deboche, da brincadeira, ela se medica, se cuida, se trata, trata bem a si e ao anônimo ao lado. E se faz dona de si, das ruas, e do mundo.
*Muito, mas muito obrigado mesmo a todos que pisaram naquele Rio de Janeiro e, sem saber, fizeram com bom humor, malícia, respeito, molejo e paz, o melhor carnaval da minha vida.