Uma das grandes vantagens da profissão que eu escolhi (ou que me escolheu, ainda não entendi direito) é que ela é uma escola diária. Claro que em todas as tarefas os profissionais vão ficando cada dia mais hábeis em seus deveres, desempenhando com maior maestria a função para a qual foram designados. Isso é natural.
Acredito eu em que qualquer metier em que haja interação com o público o aprendizado é maior. Para mim não existe nada mais fascinante do que gente. E interagir com pessoas é enriquecer na certa. Nada contra quem constrói ponte, contra quem limpa as cidades, contra quem faz o pão. Muito pelo contrário, são imprescindíveis e essenciais em suas funções. E acho uma pena que tenham pouco contato com outras criaturas que não seus colegas. Mas não tem ciência mais interessante do que a humana. Ah, não tem.
Não apenas entrevistar pessoas é um exercício de aprendizado muito intenso, como também há uma troca grande de experiências. São poucas as vezes em que não tenho a sensação de que saí da entrevista sabendo mais, não só sobre aquele assunto, mas sobre mim mesmo, sobre tudo. Quem sabe seja presunção de repórter, mas acho que a gente enriquece mais do que a média dos profissionais seja quando entrevista um especialista ou até mesmo um personagem com alguma história pontual ou de vida. É um tesão ser linha frente, ouvir causos, contar histórias.
Muitas vezes adoro saber das coisas antes, informações antecipadas. E admirar o quanto são efêmeras e vê-las se tornando poeira, seja no boca a boca, seja pela internet. A informação passa logo, mas a compreensão fica. Se o leitor esmiuçar a frase anterior pode até encontrar um dos slogans do jornal em que trabalho, mas confesso que a ideia não foi essa. Informação é um tijolo, conhecimento é a parede. Deveria ser mais tocável, perceptível, mas vejo muita gente reclamando da vida sem perceber o quanto se cresce a cada vez que se pega um bloquinho e uma caneta para anotar o que outra pessoa diz.
domingo, 24 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Me assusta que eu gosto
Isso não existe. Isso não pode existir. No 2'14" tem uma das cenas mais bonitas que já vi. Pausa e me diz se não é uma pintura. E o cara é um artista chamado Tom Curren, e eu tenho um orgulho imbecil de já ter entrevistado e tietado essa lenda. É tipo um Nilton Santos do surf.
E continua, e continua, e continua. Tipo conto de fadas.
E você nunca mais vai ver uma onda de rio assim. Eu aposto.
Seven Ghosts: Tidal Fantasy from SURFING Magazine on Vimeo.
E você nunca mais vai ver uma onda de rio assim. Eu aposto.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Cortiça em branco
Não tem nada mais em branco do que meu mural. Vazio, cheio de liberdade para tudo o que eu quiser afichar nele. Na verdade não está em branco porque não é o mural do facebook. Não que eu tenha uma vida social que seja tudo isso, mas ele não está em branco porque é de cortiça, old school mesmo, com tachinhas, boa parte delas coloridas e gastas. O antigo mural se dissolveu, estava muito parado, há muitos anos. Mudou de lugar, ganhou parede e vida nova. Renasceu.
Sei lá se eu faço um mural caprichado ou se ele vai refletir meu compasso do dia a dia, com intensidade, mas sem muitos retoques. Sendo assim, não haverá muitos esmeros e milongas. Mural com pouca coisa é mais feio do que vazio, dá a impressão de que o dono tem pouca coisa em mente. Não sei que foto colocar, ou bilhete, ou ingressos de show, exposição ou cinema.
Quem sabe o do último filme que assisti no Belas Artes, ou então do Cidade de Deus. A surrada entrada do Rock in Rio de 2001 ou a do inesquecível AC/DC em 2009? Do Paul? Do Rage? Fotos de alguma paisagem? Daquela menina bonita? De momentos que me são gratos? Ou se deixo assim vazio, como a tela irritantemente em branco que vi e achincalhei numa Bienal anos atrás. Quem sabe não seja o mural das minhas próprias mudanças?
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Além da vida
A tragédia virou História, que virou livro(s), que virou inspiração para diversos filmes. A queda do avião da Força Aérea Uruguaia nos Andes chilenos, em outubro de 1972, com 49 civis a bordo ficou marcada como uma das histórias de sobrevivência mais épicas da história. Se não a mais marcante, com certeza a mais polêmica, já que os 16 sobreviventes chegaram vivos ao cabo de 72 apenas comendo restos dos companheiros mortos.
Não é um livro que conta aquele canibalismo triste, dolorido, e imprescindível para seguir resistindo. Aborda a relação entre vida e morte com coragem, pois esta é fruto da sinceridade e transparência pois A Sociedade da Neve foi o primeiro livro com depoimentos escritos por cada um dos homens que voltaram para esta sociedade aqui. Esta sociedade confortável, que vai entrar no seu carro e ligar o ar condicionado, ou então a calefação com a temperatura despencar um pouco.
Passar noites a -30°C por mais de dois meses num abrigo precário feito com os restos da fuselagem, não ter nenhuma possibilidade de se alimentar com nada que não seja carne de cadáveres, enfrentar sem nenhuma estrutura fraturas e outros graves ferimentos. Essas foram algumas das encrencas que os homens lá em cima tiveram de lidar, e fica claro logo nas primeiras páginas que comer carne dos companheiros é algo com que lidavam naturalmente e até em tom de heroísmo, por dar ao morto o poder sem preço de perpetuar a vida dos companheiros.
Não penso que faria diferente, talvez sequer sobreviveria. Mas a obra trata de entender por diversos ângulos o que estar vivo e o que é estar morto, já que os 29 passageiros que inicialmente sobreviveram à queda foram dados como mortos cerca de 5 dias depois do acidente.
A Sociedade é uma explicação de como laços sólidos são formados, como se cria um apego fora do normal com pessoas que nunca se tinha visto. Como a vida do seu companheiro se torna inexplicavelmente mais importante que a sua e que essa troca mútua permite, de forma muitas vezes surrealista, que um não perca a esperança em ver o outro vivo e voltando aos braços da família. Faz ver sentido onde não tinha nada.
Livro bom pra chorar, e principalmente, excelente para sorrir.
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