terça-feira, 29 de junho de 2010

Catarse coletiva

Parecia que todo mundo ali naquele metrô iria perder um avião, que tavam correndo desperadamente ao aeroporto no último minuto, que já tinham se passado 10 minutos da última chamada para o vôo XX 69 171. Correria demente, faltava 1h30 pro jogo ainda. Quando faltava só meia hora todos pareciam que iriam matar um. Bar, amigos, só os amigos dos amigos, pouca gente, muita cerveja e coxinha. Surdo, pandeiro, repique e corneta, aka vuvuzela. Orquestra disso tudo, organizada, nego era bom, tinha ritmo e tudo, e olha que eu ainda não tinha tomado. Xingar Galvão, zoar o Arnaldo, fazer piada com o juiz e o amigo careca, tudo ali. Tensão, uhhhs, ahhhhs, viiiixes. Tudo explodindo, tudo nervos, mas impressionantemente organizado. Bola na trave, breja quase no chão. Unhas, cutículas, braço da amiga, tudo é bolinha anti-stress. Rir, de galera esse é o melhor remédio, que dúvida. De repente, a bola tá lá dentro. Grito. Abraça até os amigos dos amigos dos amigos. Já que é só a cada quatro anos que se tem essa intimidade, bora aproveitar. E se sentir estranhamente querido, aceito e brasileiro.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

À vontade

Tenho pressa. Estão me esperando ali n'algum lugar em que ninguém espera nada, onde se vive e só. Ali, em algum canto em que ninguém grita, só se sussurra e canta. Lá, sim, lá mesmo onde esquecemos nossa última gentileza. Onde quem tem muito tem igual a quem não tem. Onde um sorriso é moeda de troca, e como rola comércio. Naquelas banda não precisa saber dançar nem fazer pose; se joga, ninguém tá filmando, pode perder a linha. Não tem aparência, é tudo ao avesso, te vejo do dentro pra fora e você também. Não te devo nada nem você me deve. Seu único dever é não ser o que não é. Pode ser piada, revolta, entusiasmo, sinceridade, paixão ou vontade. Fique à vontade, porque ela fica com você.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O prato, a chave

Deliciosa aquela torta, me lembro. Da textura, dos farelos, era sua especialidade. O recheio, o creme, a aparência maravilhosa. Quando chegava à mesa todo mundo salivava. Mas não me lembro o sabor, não. Se era doce ou salgada, ácida ou não. Me lembro da presença dela no imaginário de todos. A torta da tia, que ela fazia de vez em quando, quando alguém fechava uma rotação do sol. Que era um evento, que conseguia atrair até o menos apegado dos primos, dos cunhados, dos irmãos. Arrastava os estômagos até o bairro que fosse, na casa de quem fosse, fizesse o frio que fosse. Falar com ela sobre a receita era quase como falar da adoção de uns primos, beirava um tabu religioso, ninguém se atrevia. E a novidade, chefia, qual é? Que tocou o telefone e era a tia, resmungando sua velhice e dores, convidando para aprender dia desses o seu segredo maior. Frisei a ela que sou jornalista e não tenho vocação para líder gastrnômico, se bem que poder comandar uma horda de gulosos pode me ensinar muito sobre manipulação. Nossa, poder alucinar neguinho com minha comida, fazer fortuna, virar Jamie Oliver e deixar de ser caça. Hum, tia, vou aí comer a divindade para poder pensar melhor.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Hoje eu acordei feliz.

Mal respirei, entre um gole e outro de cerveja. Um grito e outro de raiva. Um sorriso e outro, uma piada e outra. Sem Galvão para xingar, tinha um cara sem sal do Sportv, foco no jogo. Esparramado no pufe, risada, risadas. Grita, pô, seleção é tradição. Pintura modernista do primeiro gol, passe incrível do Ricardo. E depois, uma obra impressionista de Luis Fabimano (de Diós), inspirado em Monet e Pelé, conectados por algo mais que uma rima. Chapéu em cima daqueles monstros é coisa de moleque folgado. Que bom. Se esse é o tal ópio do povo, confesso que ontem fiquei doidão. E hoje eu acordei feliz.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tudo pessimista

Não ganhamos de lavada. Não foi um jogaço. E ninguém tá entusiasmado com o Dunga, a não ser ele mesmo. Mas também não foi uma tragédia. Não deixamos de ganhar os três pontos. E fizemos jus às nossas estréias nervosas e com placar magro, vide último post do Búfalo Filhote. Não dá pra ter certeza de nada nessa copa até agora, a não ser que Maradona será a maior estrela. Que Alemanha, Espanha, França e Inglaterra tiveram performances piores que a nossa, de longe. Mandela não foi à festa, por motivo nobre, convenhamos. Os bafana-bafana não abafaram a expectativa e dançaram, assim como a Nigéria, que com dois tropeços deixa sua vaga para Coréia do Sul ou Grécia, ultimamente conhecida como "o cunhado do mundo". Eslovênia detonando no Grupo dos EUA e da Inglaterra. Tô torcendo, viraram xodós. Quero ver na segunda no que estarei pensando.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Silêncio remédio


Muito silêncio por aqui. E o silêncio nunca vem só, traz pensamento embutido. Tenha certeza, nobre leitor, de que pensei em muita coisa nesses tempos e que nem de longe aposentar esse blog passou pela minha cabeça, deixar morrer só a chatice. Não dá, é automático, de vez em quando preciso espirrar por aqui e ser feliz. Não que não estivesse sendo esses dias, mas tava preocupado demais sendo eu mesmo. Sendo feliz de verdade, longe do mouse e do teclado, muito embora vendo eles quase que diariamente. A rotina é só ela, normal. Ver além do normal é privilégio que me foi dado não sei como e não sei por que. Mas não faz tempo e parece que uma estúpida clareza me tem arregalado os olhos ultimamente. Tem sido bom, espero que dure.

Silêncio é paz, respiro. Intervalo é melhor que pressa, que “pra ontem”. Silêncio é remédio, trabalha incansável para curar feridas, sanar dores. Adoro seguir lentamente apressado nesse mundo em que tudo já nasce velho. Me sinto novo a cada dia que se acaba de velho. Que os gritos das cornetas acordem de novo essa página, que voe aos ventos, que sacoleje ao som dos tambores desse tsunami que a cada quatro anos chacoalha essa terra. Férias ao silêncio porque ele tá precisando!