Simplesmente é fato. Além de calcada em uma estatística parcial e não embasada, minha próxima afirmação será assaz preconceituosa e carregada de inveja:
99% dos candidatos que passam nos primeiros lugares no vestibular são:
a) loucos
b) emocionalmente desequilibrados
c) chatos
d) esvaziados de inteligência emocional
e) todas as anteriores
Pode reparar naqueles caras que aparecem em outdoor de cursinho no começo do ano: tem sempre os campeões da Fuvest, da Poli e do ITA. Eles são potenciais alunos jubilados, vítimas de bullying e até matadores de criancinha. Ao longos desses tempos trabalhando com educação tenho colecionado histórias assombrosas sobre os 'geninhos' do vestibular. Em boa parte dos casos eles desvirtuam. Ou melhor, não virtuam, porque não tiveram base.
Comecei com um tom debochado, mas o que quero dizer é sério. Vestibular é um baita de um sistema de seleção. Em um país dominado pelo jeitinho, pelo dedo amigo da indicação política, pela camaradagem, conseguiu-se criar um filtro que avalia de forma correta. Mas não justa.
Primeiro porque os candidatos não estão em pé de igualdade, como se sabe o ensino médio brasileiro público é, em geral, muito fraco. Se a base é fraca, não é um ano de cursinho que o colocará no nível de um bom vestibular de faculdade pública.
Mas o principal agravante, na minha opinião, é que vestibular não filtra caráter, não seleciona necessariamente candidato com bom dicernimento emocional e capacidade de agregar nas aulas. O cara pode ser um gênio nas questões teste e até escritas, mas um alienado com as palavras, com a associação de ideias e um zero à esquerda nos debates, na interação com os colegas.
Qual a solução para isso? Confesso que não sei, mas alguns vestibulares como o da Direito FGV fazem entrevistas, dinâmica de grupo e outras atividades que têm funcionado bem. Claro que esse tipo de avaliação para escolher alunos de uma instituição pública (um curso superior completo custa entre 50 e 100 mil reais) poderia dar margens a todas as picaretagens das quais vangloriei os grandes vestibulares de estarem imunes.
Mas de uma coisa eu tenho certeza, o sistema atual ainda está longe do ideal no que diz respeito a peneirar as cabeças mais sãs. Não adianta achar que o cara que faz a melhor equação será o melhor profissional, o mais valorizado, e principalmente, alguém que tenha alguma preocupação em deixar esse lugar - leia-se: mundo - melhor.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
domingo, 26 de junho de 2011
Mais três a um
O que é melhor, ganhar de 2x0 ou de 3x1? Dia desses meu time ganhou pelo segundo placar de um grande clube gaúcho, fui ao jogo, foi divertido e um belo aprendizado. Levar gol de empate abre os olhos da equipe. Enquanto isso, o maior rival da minha equipe havia vencido sua partida por 2x0.
Não levar gol ou comemorar três? Prefiro a segunda opção, porque é a menos fácil. Muitas vezes é ótimo uma vitória de lavada (que nem a de hoje, vale dizer - parabéns gambazada - vai ter troco) para animar um time. Mas os erros do adversário têm muito valor quando vêm acompanhados de aprendizado. E em geral, a gente aprende mais errando.
Não só nos campos, nos jogos, nos esportes. É importante saber tomar gol na vida, compreender essas pequenas derrotas do cotidiano. Perceber que o jogo não tá ganho te faz ficar alerta, esperto. Vitórias sem levar gols se tornam óbvias, rasas, previsíveis. E tudo nessa vida tem gols, só reparar.
E quando a gente toma um a gente acorda, a gente mexe no time, não sossega enquanto não ganhar a batalha. Tá meio Augusto Cury, mas é isso aí que eu tava pensando mesmo. Em suas pedreiras diárias, que tenhas em seus placares mais três a um do que dois a zeros.
Não levar gol ou comemorar três? Prefiro a segunda opção, porque é a menos fácil. Muitas vezes é ótimo uma vitória de lavada (que nem a de hoje, vale dizer - parabéns gambazada - vai ter troco) para animar um time. Mas os erros do adversário têm muito valor quando vêm acompanhados de aprendizado. E em geral, a gente aprende mais errando.
Não só nos campos, nos jogos, nos esportes. É importante saber tomar gol na vida, compreender essas pequenas derrotas do cotidiano. Perceber que o jogo não tá ganho te faz ficar alerta, esperto. Vitórias sem levar gols se tornam óbvias, rasas, previsíveis. E tudo nessa vida tem gols, só reparar.
E quando a gente toma um a gente acorda, a gente mexe no time, não sossega enquanto não ganhar a batalha. Tá meio Augusto Cury, mas é isso aí que eu tava pensando mesmo. Em suas pedreiras diárias, que tenhas em seus placares mais três a um do que dois a zeros.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Pela capa
A gente tá acostumado desde pequeno a julgar as coisas pelo que enxergamos. A primeira impressão sempre mandou porque estamos acondicionados e agir de acordo com uma porção de ideias e conceitos que nos foram embutidos desde pequenos e que nos fazem tomar nossas decisões. Ao comprar livros em sebos e livrarias, agimos assim. E com pessoas não é diferente.
Quem não julga um livro pela capa ou não nasceu no século XX ou tá mentindo. Claro que há ótimos livros que se salvam já pelo título, e também deve-se levar em conta que nem sempre a capa estampou algo mais do que os nomes da obra e do autor em caixa alta.
E ninguém se interessa (primeira impressão) por alguém se não tem afinidade por 'livros' daquele tamanho, cor, estilo. Se a arte da capa não empolga, vamos ao título. Nome em geral é mais pra criar aversão do que afinidade. Tem os 'normais' e os exóticos. A maior parte dos normais se atraem. Vira e mexe aparece um nome exótico que traz de quebra alguém bacana.
E o conteúdo, é igual a comprar livro. Se envolver com alguém é tarefa engraçada. Você folheia naquele começo, bate os olhos em alguns parágrafos, escuta umas histórias, pode dar umas risadas, se prender à leitura. Ou não.
A gente compra gente pela capa, pela folheada, pelo prefácio que algum amigo que te apresentou escreveu naquela mesa de bar. 'Você precisa conhecer uma amiga minha...'. Depois tem o primeiro capítulo, que é sempre delicado. A imersão. O segundo, o roteiro tem que fazer sentido. Se chegar até a página 50 sem ficar de saco cheio é bom sinal. Se passar da 51, vai tranquilamente até o fim.
Quem não julga um livro pela capa ou não nasceu no século XX ou tá mentindo. Claro que há ótimos livros que se salvam já pelo título, e também deve-se levar em conta que nem sempre a capa estampou algo mais do que os nomes da obra e do autor em caixa alta.
E ninguém se interessa (primeira impressão) por alguém se não tem afinidade por 'livros' daquele tamanho, cor, estilo. Se a arte da capa não empolga, vamos ao título. Nome em geral é mais pra criar aversão do que afinidade. Tem os 'normais' e os exóticos. A maior parte dos normais se atraem. Vira e mexe aparece um nome exótico que traz de quebra alguém bacana.
E o conteúdo, é igual a comprar livro. Se envolver com alguém é tarefa engraçada. Você folheia naquele começo, bate os olhos em alguns parágrafos, escuta umas histórias, pode dar umas risadas, se prender à leitura. Ou não.
A gente compra gente pela capa, pela folheada, pelo prefácio que algum amigo que te apresentou escreveu naquela mesa de bar. 'Você precisa conhecer uma amiga minha...'. Depois tem o primeiro capítulo, que é sempre delicado. A imersão. O segundo, o roteiro tem que fazer sentido. Se chegar até a página 50 sem ficar de saco cheio é bom sinal. Se passar da 51, vai tranquilamente até o fim.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora
O fluxo de ar que fazia a temperatura do meu nariz congelar na noite da última terça-feira - aka ontem - nem me fez desconfiar de que trazia duplamente os bons ventos do fim de ciclo.
Por um lado, é óbvio que eu estava ali naquele tobogã pacaembuense para uma despedida. Um triste, mas bonito e necessário adeus. Mais que útil, justo, com dignidade. Daqueles que valem por si só, pelo ritual, que só de existirem já são digníssimos. Despedidas assim são corretas e marcam o ponto final de um movimento - no caso dele - de uma carreira que valeu a pena. Tanto para ele quanto para o Brasil.
A uns mil quilômetros do Pacaembu, no Planalto Central, mais precisamente no palácio homônimo, um outro gordo, também se despedia. Muito menos carismático, muito menos craque e muito menos útil e relevante para a nação. Aquele que não tinha nada porque se despedir, pois nem sequer deveria estar ali. Muito menos mandando e desmandando.
Se tem um dos dois fora de forma que tem moral para ser estadista, sem dúvidas é o que foi flagrado com travestis num motel na Barra da Tijuca. Já o flagrado - twice, btw - fazendo falcatrua, é quem sempre sonhou com esse posto. Em vão, espero. Ora se utilizando de seu poder para bisbilhotar o sigilo bancário alheio, ora multiplicando seu patrimônio às custas do seu e do meu dinheiro.
A sensação de dever cumprido nos olhos lacrimejantes do rechonchudo atacante no centro do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho carregava a sobriedade e sinceridade de um estadista ideal. Não que fosse perfeito, mas tinha consciência de seus atos, gostava de servir o Brasil - claro, também serviu sua conta bancária, só que honestamente - e de fazer algo para alegrar, nem que por um grito de gol, a vida de milhões de pessoas. Apesar de fácil, aquele sorriso nunca foi amarelo.
A única coisa em comum entre Ronaldo e Palocci é que ambos estão gordos e largaram suas funções oficiais ontem. Por enquanto, a despedida ruim é a do futebol e a boa é a do campo político. A pena é que Ronaldo não volta aos gramados. E o outro não só volta a atuar, como certamente ainda vai atacar o seu bolso.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Um piano na noite
O Santos jogava, escutava no rádio. Caminhava. Metrô Santana. Bela noite fria de junho. Um a zero. Passei a catraca. Som gostoso, um piano ali no canto. Que bom que não tem mais só na Luz ou na Sé. Colocar pianos pelos cantos das estações e das cidades deveria ser lei municipal. Colorem o ambiente, divertem o som, apesar de frequentemente serem marrons cor de carvalho.
Muito bem tocado, entusiasmante. Leve, profundo. Tirei os fones do ouvido. Não tinha porque priorizar a afoita locução diante de um gesto de tamanha solidariedade. É de uma elegância ímpar quando alguém que detém a habilidade, quando não dom, de tocar um instrumento se propõe a dividir seus conhecimentos com os outros.
E nessas horas não é necessário saber o que está sendo tocado, apenas que pareça ou que soe belo. E isso sem dúvidas acontecia demais naqueles instantes. Era um homem alto, de rosto magro, angulado. Confesso que atravessaria a rua em condições normais. Jamais meu preconceito me permitiria imaginar que detinha tamanha arte nos dedos e menos ainda que era tão generoso.
Outros três transeuntes pararam o que faziam, e foram ali ganhar alguns minutinhos. Quem sabe atrasem uns 10 minutos. Mas assim como eu, acredito que chegarão em seus lares com o espírito melhorado, aliviado. Inspirado ou não pelos belos acordes, ao mesmo tempo lá no Paraguai, Neymar marcava mais um gol para o Santos.
Muito bem tocado, entusiasmante. Leve, profundo. Tirei os fones do ouvido. Não tinha porque priorizar a afoita locução diante de um gesto de tamanha solidariedade. É de uma elegância ímpar quando alguém que detém a habilidade, quando não dom, de tocar um instrumento se propõe a dividir seus conhecimentos com os outros.
E nessas horas não é necessário saber o que está sendo tocado, apenas que pareça ou que soe belo. E isso sem dúvidas acontecia demais naqueles instantes. Era um homem alto, de rosto magro, angulado. Confesso que atravessaria a rua em condições normais. Jamais meu preconceito me permitiria imaginar que detinha tamanha arte nos dedos e menos ainda que era tão generoso.
Outros três transeuntes pararam o que faziam, e foram ali ganhar alguns minutinhos. Quem sabe atrasem uns 10 minutos. Mas assim como eu, acredito que chegarão em seus lares com o espírito melhorado, aliviado. Inspirado ou não pelos belos acordes, ao mesmo tempo lá no Paraguai, Neymar marcava mais um gol para o Santos.
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